Nas trocas de governo, é comum a nova gestão reclamar de “herança malditas”: muita conta a pagar e pouco dinheiro em caixa. Mesmo tardiamente, Ibaneis Rocha (MDB) vai receber um presente, resultante das políticas ambientais das gestões Agnelo Queiroz (PT) e Rodrigo Rollemberg (PSB).
O GDF poderá captar R$ 195 milhões, segundo autorização dada pela Comissão Nacional para Redd+ (Conaredd+). Os valores consideram que, de 2011 a 2020, a preservação de áreas de Cerrado no DF capturou cerca de 38 milhões de toneladas de gás carbônico da atmosfera.
Incentivo – Redd+ é um incentivo da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima para recompensar financeiramente países em desenvolvimento por seus resultados de redução de emissões de gases de efeito estufa provenientes do desmatamento e da degradação florestal.
A Conaredd+ é o ente que disciplina, no Brasil, as regras dessa recompensa. Segundo ela, o DF possuía, em 2017, 2,290 mil km² de Cerrado preservado. De 2011 a 2017, foi verificada uma média anual de desmatamento de 8,15 km². Esse desempenho garantiu à Capital um repasse de 2% do total de repasses que os Estados ganharão.
Essa quantia é a menor possível, uma “merreca” dentre as verbas autorizadas, segundo um técnico do governo. Minas Gerais e Mato Grosso do Sul terão direito a captar cinco vezes mais do que Brasília. Piauí, Paraná, Rondônia e São Paulo, onde a atividade rural é bem mais intensa do que a do DF, também receberão o mesmo percentual candango.
Agronegócio e expansão urbana, os vilões
Brasília poderia ser melhor recompensada se adotasse medidas mais preservacionistas. Mas o que se vê é o inverso. Em 2022, a área de vegetação nativa se resumia à metade da existente há 62 anos.
Agronegócio e expansão urbana respondem, em cotas iguais, pelo desmatamento. Cada setor ocupou 1/4 das terras virgens. Nos quatro primeiros meses deste ano, a volúpia sobre o Cerrado aumentou. De janeiro a abril, o desmatamento no DF equivaleu a 127% do ocorrido em todo o ano passado: 241 hectares contra 192ha. Nem as áreas de proteção ambiental são respeitadas Era nelas que estavam 2/3 do Cerrado brasiliense devastado, na área da Apa do Planalto Central, sob responsabilidade federal.
Expansão Urbana – Em outubro, a Secretaria de Meio Ambiente informou a esta coluna que via na expansão urbana executada pela grilagem como o maior risco à preservação ambiental. As áreas mais atingidas estão na região do Rodeador, em Brazlândia, onde fica a Flona, e na Arie Ipê-Coqueiros, no Park Way.
Há, ainda, a expansão oficial, que está acelerada na gestão Ibaneis. As de maiores dimensões são os bairros Jockey Club e Pátio Ferroviário, nas cercanias do Parque Nacional de Brasília, cada um com capacidade para 70 mil novos habitantes.
Há iniciativas em áreas menores, como a criação da quadra 60, do Guará, que interligará o Setor de Motéis da Candangolândia ao Guará 2, e o Centro Metropolitano de Taguatinga, para 20 mil habitantes, numa área de 219 há entre a Avenida Elmo Serejo e o Ribeirão Taguatinga, no trecho.
O projeto prevê 130 lotes – 105 de uso misto (comércio e residência), 14 comerciais e institucionais, 7 de equipamentos públicos e 4 institucionais). Não foi informada a altura que as edificações poderão atingir.
Terracap assusta ambientalistas
A iniciativa da Terracap deixou os ambientalistas de cabelos arrepiados. Alzirênio Carvalho salienta que o empreendimento agride a Área de Relevante Interesse Ecológico (Arie) JK, criada em 1996.
Segundo as normas, uma Arie tem por finalidade preservar os ecossistemas naturais de importância regional. O Ribeirão Taguatinga atende produtores rurais e é um corredor ecológico natural que interliga os Parques do Cortado, Saburo Onoyama, Três Meninas e Gatumé. Deságua no Rio Melchior, que já sofre com muita poluição, fruto do esgoto proveniente da Ceilândia.