O ataque suicida ao Supremo Tribunal Federal no último dia 13 de novembro chocou boa parte dos brasileiros. E digo “boa parte” porque nem todos se espantaram com o nível de radicalização a que chegou a política no Brasil. Há inclusive – pasme – quem tenha sentido inveja de Francisco Wanderley Luiz. E outros que o consideram um mártir para a Nação.
Com o respeito e seriedade que merece o tema, permitam-me discordar de autoridades – como a governadora em exercício do Distrito Federal, Celina Leão – que definiram o homem-bomba como “lobo solitário”. Também não pretendo ser leviano para pré-julgar quem quer que seja. Meu objetivo é relembrar fatos recentes que me levam a crer que a atitude de Francisco Wanderley não é um fato isolado.
Em junho de 2013, quando o Brasil viu jovens irem para as ruas em manifestações originalmente contra aumento nas passagens de ônibus, um recado foi dado: as redes sociais têm poder para quase tudo. Aqueles protestos pararam o país, ameaçaram a realização de uma Copa do Mundo de Futebol no ano seguinte e elegeram representantes que até hoje atuam na política brasileira, como o coordenador do Movimento Brasil Livre (MBL), Kim Kataguiri, deputado federal por São Paulo.
Cinco anos depois, em 2018, Jair Bolsonaro foi eleito presidente da República sem fundo partidário e sem tempo de televisão, com foco de sua comunicação na internet. Mais especificamente, na desconstrução de seus adversários via WhatsApp.
Durante os quatro anos de mandato de Bolsonaro, o mesmo modus operandi da campanha foi usado para colocar em xeque a ciência, no auge da pandemia. Até então, contava-se nos dedos os brasileiros que duvidavam da eficácia de vacinas.
Também não esqueçamos do acampamento em frente ao Quartel General do Exército, em Brasília, que ficou armado por 71 dias e resultou nos atos do 8 de janeiro de 2023. À época, os extremistas declararam, inclusive, luto por uma mulher que não morreu. O portal de notícias Metrópoles esteve no acampamento e foi publicou: “Os ocupantes vivem em uma realidade paralela”.
Esses poucos fatos – existem muitos outros – mostram que o recente atentado ao STF foi uma conjunção de fatores. Tiu França, codinome do suicida, talvez tenha agido realmente sozinho.
Mas o que o levou a praticar tal ato? Provavelmente as mesmas fontes de informação que provocaram insanidades como a desconfiança na ciência, luto por uma pessoa viva, destruição das sedes dos três Poderes da República e pedidos de volta da ditadura militar.