Júlio Pontes (*)
É compreensível o desconhecimento, e até a repulsa, de parte da imprensa com relação às redes sociais. O fenômeno de ter que dialogar abertamente com o cliente-espectador assusta os mais conservadores. O mesmo ocorre com certos políticos acostumados por muito tempo a lidar diariamente apenas com a redoma dos gabinetes.
A contratação de uma agência de marketing a cada quatro anos para alugar uma reputação pública não é mais suficiente. Acabou o período onde tínhamos poucos emissores de mensagem e muitos receptores. Hoje, todos emitimos e recebemos. Mas parte da mídia não-adaptada ao século atual insiste em remar contra a maré. Em vão.
Repete-se como mantra que rede social é para entretenimento e/ou relacionamento interpessoal. No caso dos políticos, o público conectado quer o dia a dia: rotina, trabalho, hobbies e bastidores.
Surgida na esteira das redes sociais, a jovem senadora Soraya Thronicke (União-MS) sabe, como poucos, dialogar com esse público – não mais tão jovem como outrora. Enquanto candidata à Presidência da República em 2022, Soraya atingiu mais de 10 milhões de visualizações no TikTok.
É simples concluir que o balanceamento entre conteúdos políticos e pessoais agrada a audiência da senadora, mas incomoda aqueles que pouco entendem a dinâmica das redes. Ou comparam curtidas a votos.
Não-resiliência
Em vez de aprender com o trabalho comunicacional da ex-presidenciável, um blog de notícias de Mato Grosso do Sul optou por acusá-la de “banalizar o cargo de senador com futilidades em rede social”.
O blog, que em suas redes sociais segue perfis que utilizam-se da mesma artimanha do algoritmo, parece não se incomodar, por exemplo, com as fotos das pescarias do ex-governador de Mato Grosso do Sul, Reinaldo Azambuja, que tem se destacado na rede.
Soraya e Azambuja são exemplos bem-sucedidos de políticos que se utilizam das redes sociais para se aproximar do eleitor. Como Davi Alcolumbre, também senador do União Brasil, que usa linguagem mais jovem em seus perfis.
No carnaval, assim como Soraya, Alcolumbre também usou fotos da folia no Amapá, seu estado. Aos olhos de “conservadores” de plantão, no entanto, é mais chocante uma senadora (mulher) que goste do carnaval.
Representante de Mato Grosso do Sul no Congresso Nacional, a senadora destinou emendas parlamentares para todas as escolas de samba do estado, apresentou requerimento para criação da CPI dos Atos Antidemocráticos do dia 8 de janeiro de 2023 e ainda destinou verbas para saúde, segurança e educação.
Um olhar menos tendencioso no perfil da parlamentar sul-matogrossense seria suficiente para ter acesso a essas informações.
Políticos não precisam ser chatos. Muito menos nas redes sociais. Eles têm direito de brincar carnaval e mostrar isto aos seus seguidores. Creditar engajamento nas redes a robôs é tática antiga para desqualificar o trabalho alheio.
Na dúvida, como observador, aconselho essas pessoas a seguir os passos de quem tem tido sucesso – é mais inteligente do que jogar pedra sem ter o que acrescentar ao que está sendo feito dentro de uma lógica de comunicação do Século XXI.
(*) Especialista em Marketing Político Digital