Todo ano é a mesma coisa: aquela pista alaga, o transporte público que não melhora, falta professores nas escolas e de equipes nos hospitais…
Mateus Gianni Fonseca (*)
Há problemas rotineiros da cidade que aparecem ano após ano e que, em determinada época, nossos representantes se pronunciam: “Vamos aguardar, já estamos trabalhando nisso”. Alguns até complementam: “A população precisa ter paciência”. Mas, o que acontece depois? O dinheiro e o esforço são direcionados a outras frentes. Quando “bem aplicado”, os recursos vão para obras que geram manchetes. Afinal, é necessário criar um portfólio para a próxima eleição. Mas, e as melhorias necessárias que não geram manchetes? Parece que vão se constituindo uma herança repassada eternamente.
A procrastinação é presente em nossas vidas. Dificilmente uma pessoa consegue resolver todas as suas demandas com a mesma atenção e velocidade. Até porque, há dias em que o indivíduo está mais disposto e outros em que o único desejo é deitar no sofá com um balde de pipocas e procurar por um bom filme para assistir. Mas, existe uma grande diferença entre a procrastinação de um indivíduo para com suas próprias atividades, cujo beneficiado ou prejudicado seja apenas ele, e a procrastinação entre representantes do Estado para com a coisa pública, que atinge a população de determinada localidade ou do país inteiro. O Estado não pode comer pipoca e procurar pelo filme em plena terça à tarde.
Há quanto tempo o Teatro Nacional, um marco cultural que se configura cartão-postal da capital do País, está parado? Um fato tão absurdo que parece gerar precedentes para que cidades menores também acumulem monumentos em “restauração”. Parece que ninguém irá notar ou sentir falta!
Se tais monumentos, que contribuem para o turismo e para a geração de renda, não são vistos como prioridades, o que acontece com as melhorias de proporções menores? Ninguém lê uma manchete: “Fulano investiu X reais para trocar a instalação elétrica do museu A, B ou C”. O motivo? Apesar de sabermos que instalações elétricas em condições ruins podem gerar incêndios que liquidem toda uma construção, o público não vê os cabos.
Na cabeça desses falsos representantes da população, ou melhor, da procrastinação, é preferível pintar uma fachada que pode ser consumida meses depois por incêndio iniciado por curto-circuito ou outra complicação do gênero. É um hábito ruim não antecipar a solução e acreditar que aquilo não irá acontecer.
A população não precisa de paciência. Ela precisa receber satisfações e ver a solução se materializar. Constatar o mesmo problema todo ano e nada fazer é contraproducente, na medida que se empreende equipes inteiras para estudo e planejamento de soluções que nunca saem do papel. Um grande problema é que muitos representantes não agem em seu trabalho como agem em casa – certamente lá a manutenção está em dia.
Se olharmos com cuidado ao nosso redor, não será difícil encontrar problemas que já deveriam ter sido solucionados há anos. E a eleição se aproxima…
(*) Professor