Em troca de um punhado de dinheiro, Judas Iscariotes traiu Jesus, identificando-o aos seus algozes no Jardim do Getsêmani com um beijo no rosto. Por esse crime abjeto, em meu tempo de menino, nem bem terminava a madrugada da Sexta-Feira da Paixão e amanhecia o Sábado de Alelúia, a gente saía de pau de vassoura em punho para malhar os bonecos de pano do Judas, pendurados nos postes das ruas de nossa cidade. Por isso estranhei que essa malhação não se repetisse na Semana Santa deste ano de 2016. E filosofei: afinal se as crianças de hoje esqueceram desse Judas bíblico, nós, adultos, não podemos esquecer das centenas de Judas políticos, que traíram a todos nós, brasileiros, não apenas por 30 moedas de prata, mas por bilhões de reais ou dólares.
Já estão quase todos relacionados no STF, mas resta saber até quando vão ficar impunes, entre os quais o deputado Eduardo Cunha, que preside a Câmara Federal. O que é mais doloroso de constatar, caso a presidente da República Dilma Rousseff e Michel Temer, seu vice escorregadio, vierem a ser cassados no processo que tramita no TSE, quem vai presidir interinamente este país é esse senhor Cunha, que responde a inúmeras falcatruas (comprovadas). Se isso acontecer, corresponderá a mais um escárnio humilhante, o que tem sido uma constante na história política do Brasil, na qual já rolou até mesmo um documento falso quando, em 1953, o líder da UDN, Carlos Lacerda, apresentou com estardalhaço a Carta Brandi, mentindo sobre compra de armas na Argentina, para instalar uma República Sindicalista pelo presidente Vargas.
Como jornalista que acompanha fatos políticos desde os meados da década de 1950, testemunhei coisas de estarrecer. Lembro-me, por exemplo, do ianque padre Patrick Peyton, que comandou a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, reunindo mais de 500 mil pessoas na praça da Sé, em São Paulo, contra o governo federal. Por mera coincidência, o protesto foi deflagrado no dia 19 de março de 1964, 12 dias antes do Golpe Militar que derrubou Jango Goulart. Na década de 1970, Peyton foi apontado por historiadores americanos como agente da CIA: “Especialista em levantar as massas católicas contra o comunismo ateu, em nome da Virgem Maria”.
Como se vê, em assunto de política, nem mesmo o nome da mãe de Jesus Cristo é poupado.
As minhas mil viagens
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