Escolhido no processo de seleção do Partido Novo como pré-candidato ao Senado, o advogado Paulo Roque, 51 anos, defende o fim de qualquer indicação política para cargos públicos. “O político é perverso nas estatais, nas administrações públicas. Ele sucateia a empresa pública. O político não pode estar lá. As indicações têm que ser técnicas. As empresas precisam ser eficientes, dar lucro, e o político não está lá com esse interesse”, diz ele.
Morador de Brasília desde 1988, Roque é formado em Direito pelo UniCeub e durante dez anos atuou como comentarista da rádio CBN. Natural de Cajuri (MG), por duas vezes foi diretor da Escola Superior de Advocacia e já concorreu em duas eleições à presidência da Ordem dos Advogados do Brasil, secção DF, da qual é conselheiro.
Nesta entrevista ao Brasília Capital, evita atacar a PEC do teto de gastos. “Qualquer governo precisa de disciplina fiscal. Sem essa disciplina leva-se ao caos”. Também não critica a decisão do governador Rodrigo Rollemberg (PSB) de não conceder aumentos salariais negociados pelo ex-governador Agnelo Queiroz (PT) com os servidores do GDF. “O governo anterior foi um caos em matéria de responsabilidade fiscal. O servidor fica feliz com aumentos, mas o governo que não tem uma disciplina fiscal é o pior governo para o servidor, que, lá na frente, vai pagar a conta por não receber o salário”.
Por que o senhor quer ser um dos representantes do DF no Congresso Nacional? – Sinto uma necessidade de renovação na política. Estou saindo da minha zona de conforto. Todas as pessoas de bem que condenam a velha política são convocadas a fazer algo neste momento e não ficar parado. Temos que assumir um compromisso com as pessoas de bem deste país. A política está suja. As pessoas de bem se afastaram da política. As boas pessoas precisam estar no parlamento. Por isso me coloco nesse propósito.
Você é novato nessas eleições. Como isto pode lhe favorecer? Como se tornar conhecido para conquistar o voto do eleitor? – No Partido Novo não há nenhum político tradicional ou com mandato. Todos saem de sua zona de conforto nesse primeiro momento, decorrente do grave problema que estamos vivendo. Sou novato sim. É melhor do que ser um velhaco na política. Sobre experiência como parlamentar, eu digo: O Congresso Nacional tem 31 parlamentares com mais de 20 anos de mandato. Isso resolveu alguma coisa? Não é uma questão de experiência, mas sim de valores que se levam para a instituição. Hoje o público acessa mais a internet do que a televisão. Vamos atrair um grande público nas mídias sociais.
O senhor se filia pela primeira vez a um partido político. Por que a opção pelo Novo? – Foi minha filha de 18 anos que me indicou ao Novo. Ela me pediu para conhecer o partido. Ela havia conhecido pelas redes sociais e eu estava frustrado com a velha política nacional, decorrente da falta de compromisso da nossa classe política. Boa parte desses estão aí mais para fazer negócios do que cuidar do país. Participei de uma seleção interna com 10 postulantes e fui indicado.
Quem serão os seus suplentes? – A escolha será feita nesse processo seletivo. Não consigo indicar meu suplente.
Há a possibilidade de coligação com outros partidos? – Não. O partido até pode fazer isso, mas acho muito difícil. Vamos coligar com quem? Com o MDB que está envolvido na Operação Lava Jato? Com o PT? O Novo não vai fazer parcerias com partidos envolvidos em corrupção.
Isso não é sectarismo? – Não vejo assim. A população quer sinais de seriedades. As pessoas viram a cara quando se fala em política. E compreendo isso. Elas foram maltratadas. Eu me incluo nisso. Vários desses partidos não deveriam estar existindo hoje. Alguns negociaram caixa dois.
O Novo tem quantos filiados? – Vinte mil no Brasil e cerca de mil em Brasília. É uma estratégia que se busca através das mídias sociais. A internet vai mudar a cara das próximas eleições.
A sua linha na advocacia é de defesa dos direitos do cidadão e do consumidor. O que dá mais ibope? – Ambos sofrem com o problema da violação da lei. O consumidor brasileiro tem código de primeiro mundo e serviço de quarto mundo. A fiscalização no Brasil é muito baixa.
Se o senhor já estivesse no Senado, teria votado a favor ou contra a PEC do Teto dos Gastos? – Acho que qualquer governo precisa de disciplina fiscal. Sem essa disciplina leva-se ao caos. O governo gastador faz a sociedade sofrer as consequências. O Brasil tem a Lei de Responsabilidade Fiscal, que ninguém respeita. O problema na PEC 95 é que se a LRF estivesse sendo cumprida não precisaria de uma PEC. A própria LRF nos daria a garantia de disciplina fiscal. No Brasil houve aumento sem previsão orçamentária.
Então o senhor concorda com a gestão do GDF. Rollemberg não executou uma séria de aumentos autorizados pelo governo passado alegando que a LRF estava no limite em Brasília… – O governo anterior foi um caos em matéria de responsabilidade fiscal. O servidor fica feliz com aumentos, mas o governo que não tem uma disciplina fiscal é o pior governo para o servidor. Lá na frente o servidor vai pagar a conta e nem vai receber o salário. Não há nada pior do que trabalhar e não saber se vai receber. Então um governo que tem disciplina fiscal é um governo que cumpre seus compromissos. Agora, não é só isso. Governo tem que olhar para o futuro e não somente para o passado. Vejo que no DF os governantes olham muito para trás. Temos a maior renda per capita e uma das maiores desigualdades do país. Os empregos no setor público são 55% da massa salarial do DF, e 25% de desempregados entre jovens. Temos que olhar para frente e dar uma solução para isso.
Qual seria a solução? – Primeiramente tem que destacar que não vamos preencher todas as vagas de jovens desempregados no setor público. Em Brasília, de dez vagas abertas, sete são de empresas privadas. A massa salarial hoje de 55% é do setor público. Mas a iniciativa privada provê mais de sete vagas naquilo que dá dignidade às pessoas. É certo que a iniciativa privada é alimentada pela máquina pública, mas é uma iniciativa privada empreendendo. Não vai mais ser o Estado que vai resolver o problema do desemprego. Brasília tem uma vocação tecnológica muito grande. Cadê o Parque Digital de Brasília? Recife tem e Brasília não tem. Todo governo fala e não faz. Mas para pensar nisso, tem que se parar de jogar pedras no empresário.
O senhor é favorável à redução da carga tributária? – No Brasil, só em pensar em produzir o sujeito já é penalizado com impostos. O país é líder mundial nisso. Os empresários sustentam este país. É gente honesta, trabalhadora e que não tem nenhum privilégio. Tem gente gerando emprego e não tem lucro. Essas pessoas o Estado não pode ver como inimigas, mas como aliadas. Quem gera riqueza não é o Estado, mas sim o empreendedor junto com o trabalhador. O Estado deveria dar uma medalha para cada loja que abre. Na verdade, ele as pune. Nas escolas da Coreia do Sul ensina-se as crianças a empreender. No Brasil, ensina-se a ser empregados. Com todo respeito a quem é empregado, mas a cultura tem que mudar. O emprego está sofrendo baque no mundo inteiro. O empreendedorismo é a salvação do futuro deste país.
Qual a posição do Novo em relação à privatização de empresas públicas? – O Novo não trata a privatização como tabu. O Novo quer ver o que funciona ou não. A primeira coisa que iremos fazer é tirar as indicações políticas de todas as estatais. O político é perverso nas estatais, nas administrações públicas. Ele sucateia empresa pública. O político não pode estar lá. As indicações têm que ser técnicas. As empresas precisam ser eficientes, dar lucro, e o político não está lá com esse interesse. Pode ser que uma ou outra seja privatizada.
O senador Reguffe foi o mais votado e, mesmo não sendo candidato, é um dos líderes nas intenções de voto para governador. De que forma ele lhe inspira como candidato ao Senado? – São estilos diferentes. Tenho respeito por ele. Reguffe provou que pode fazer uma campanha vitoriosa sem gastar muito dinheiro e sendo transparente. É possível isso. Ele se manteve fiel aos seus princípios e valores.
O senhor é favorável a candidaturas avulsas? – Sou favorável e o Novo defende as candidaturas avulsas. Os partidos no Brasil são muitos ditadores. Se você não for amigo do presidente do partido dificilmente conseguirá uma legenda. No Novo não tem isso. O processo seletivo facilita.
Qual sua posição quanto ao Fundo Constitucional do DF? Qual a importância dele para a sobrevivência de Brasília como Capital da República? – Acho difícil tirarem o Fundo Constitucional do DF porque aqui é a sede da capital do Brasil. Ele está dentro do pacto entre a União e o DF para o funcionamento da sede administrativa dentro da unidade de Federação. Particularmente, gostaria de ver o DF mais independente financeiramente. Mas só vai conseguir isso se apostar na iniciativa privada, na geração de empregos, para que tenha um polo de tecnologia que seja referência para todo o Brasil.
Qual sua avaliação do trabalho da Câmara Legislativa – O brasiliense é frustrado com a Câmara Legislativa. Ela tem envergonhado o DF. Tem 80% de leis inconstitucionais e mesmo assim votam em leis inconstitucionais para tirar fotografias, gastando recursos da sociedade. Tem-se a maior verba de gabinete todos os parlamentos, com R$ 230 mil por mês e, na grande maioria das vezes, para contratar assessores como cabos eleitorais com dinheiro do contribuinte. A Câmara está contaminada pela velha política. A Câmara gasta muito dinheiro com publicidade. Apóio o movimento Câmara Mais Barata, que propõe reduzir pela metade os gastos da Câmara Legislativa. Como senador, vou impor o teto de gastos, acabando com todos os privilégios, como aposentadoria especial, verba indenizatória, planos de saúde vitalícios para os senadores.
Quais serão suas principais bandeiras no Senado? – Redução de gastos no Legislativo, projeto de lei estabelecendo a meritocracia no serviço público e cobrando resultados, com estabelecimentos de metas para dar satisfação à sociedade. A população precisa saber a meta das secretarias da Saúde, Educação. Quando a meta não for atingida, saber o motivo. Agora, quando for atingida, teremos que premiar os servidores.