Donald Trump, o arrogante e presunçoso bilionário norte-americano, não obstante todos os crimes por ele cometidos, desde segunda-feira (20) ocupa a Casa Branca, pela segunda vez. Esse é o retrato fiel da farsa que é a tão badalada democracia norte-americana, do quão manipulado é seu sistema de justiça e do elevado grau de alienação a que chegou grande parte de seu povo.
Não restam dúvidas: osegundomandato deTrumpse enquadra perfeitamente no conceito de plutocracia. Além dele, que tem fortuna de US$ 5,5 bilhões, a cúpula do governo inclui o escroque ElonMusk,maior bilionário do planeta (US$ 428 bilhões) e outros 11 bilionários, com patrimônios de 1 a 5 bilhões de dólares, muitos com contratos bilionários com o próprio governo estadunidense. E uma gestão dessa natureza, radicalmente americocêntrica, tem a capacidade de cometer ações insanas.
Desde sua eleição, em novembro, Trump tem dado declarações radicais e disparatadas, como reiniciar a guerra comercial com a China; taxar em 100% as importações de países do BRICS que deixem de usar o dólar em seu comércio exterior edeportar 11 milhões de imigrantes ilegais. Mas o que mais chamou a atenção, pelo descalabro que representa, foi sua afirmação de que anexará a Groenlândia,tornará o Canadá o 51º estado dos EUA e retomará o canal do Panamá.
A ameaça, aparentemente tresloucada, tem fundamentos históricos. O “American First” (América em primeiro lugar) de Trump 1 e o ressuscitado “MakeAmericaGreatAgain” (Faça a América grande novamente) de Trump2, tem suas raízes na Doutrina Monroede 1823 – “A América para os americanos”.
Essa expressão repudiava a intromissão das potências europeias nos assuntos do continente, área de interesse exclusivodos EUA, e no “Destino Manifesto” (expressão bíblica adotada em 1845 pela sociedade norte-americana para motivar a expansão rumo ao oceano Pacífico e justificar a tomada de metade do território mexicano).
E onde entram nisso Groenlândia e Canadá? Com o descaso dos EUA e das demais potências em conter as mudanças climáticas, o desgelo no Oceano Ártico avança celeremente, de tal forma que por ali já se estabeleceram rotas comerciais que passam pelo norte da Escandinávia e da Sibéria, pelo Alasca, norte do Canadá e Groenlândia.
Essas duas últimas regiões sãoescassamente habitadas, possuem vastas extensões de floresta boreal (taiga)e imensuráveis recursos naturais, sequer ainda prospectados, atiçando o interesse do grande capital.
A Groenlândia, maior ilha do planeta com 2,16 milhões de Km², habitada há cerca de 5 mil anos pelos povos inuítes, foi descoberta pelos vikings noruegueses em 900 dC e colonizada a partir de 982, sendodomínio dinamarquês a partir de 1721. Com escassos 57 mil habitantes (80% inuítes), é uma região autônomada Dinamarca, com parlamento e primeiro-ministro próprios e desde 2008 reivindica sua independência.
Já o Canadá é o segundo país mais extenso do planeta (9,99 milhões de Km²) com 40 milhões de habitantes. Foi colonizado pelos francesesdesde 1534, estendendo-se da foz do rio São Lourenço até os Grandes Lagos,edaí, pela bacia do rio Mississipi, até o golfo do México.
O território perdido para a Grã-Bretanha após a Guerra dos Sete Anos (1756/63) foi sendo gradativamente ocupado até o Pacífico, com os colonos europeus dizimando grande parte dos povos nativos.Mas a colonização europeia restringiu-se ao sul do Paralelo 60 N, pois o Norte era uma região inóspita e não apropriada para a agricultura.
A porção meridional do território canadense, com 6,55 milhões Km², compreende dez províncias onde vivem 99,7% de sua população. Já a porção setentrional é uma imensa área (3,44 milhões Km²) compreendendo três territórios (Nuvanut, Territórios do Noroeste e Yukon), com parcos 130 mil habitantes, sendo mais da metade inuítes e povos afins.E esses povos reivindicam aOtawamaior autonomia. É nesse território, e não todo o Canadá, que Trumpestá de olho.
Além da Groenlândia e dos três territórios setentrionais canadenses, o povo inuíte e seus “primos”aborígenes (inupiats, aleútes,tlingits,iúpigues) habitam o estado norte-americano do Alasca (1,73 milhões Km²) e o imenso distrito siberiano russo do Extremo Oriente (6,96 milhões Km²), notadamente o território deKamchatka e a região autônoma de Chukotka.
Evidentemente que pretender tomar o vasto território siberiano russo, nem Trump chega a tanto. Já foi suficiente a incorporação do Alasca, comprado em 1867 de uma Rússia falida pela Guerra da Crimeia.
Mas não serão estranhas à prática imperialista norte-americana uma forte pressão pela “compra” da Groenlândia e por uma ampla autonomia dos três territórios setentrionais canadenses (seguida da instalação de bases militares dos EUA).