Planilha apreendida com um dos políticos investigados na operação Drácon – que apura pagamento de propina a deputados do Distrito Federal – lista a quantidade de indicações políticas feitas por cada um dos 24 parlamentares da Câmara Legislativa. O documento aponta 2.780 cargos atribuídos a 16 deputados (veja planilha mais abaixo).
Os peritos ainda apuram quem produziu a planilha, e de quando seriam esses dados. O documento faz parte das informações entregues à Justiça pela Polícia Civil e pelo Ministério Público. Na última terça-feira (22), o sigilo das informações foi derrubado por decisão do desembargador José Divino, relator do caso.
Em nota, a Casa Civil do DF afirmou que \”o preenchimento de cargos comissionados, seja na administração direta ou indireta, baseia-se na compatibilidade da formação do profissional e na experiência dele com a função a ser exercida\”. Segundo o órgão, indicações políticas são aceitas se preencherem esses quesitos.
Segundo a planilha, os deputados que têm maior número de indicações no governo de Rodrigo Rollemberg são Raimundo Ribeiro (PPS) e Joe Valle (PDT) – seriam 650 apadrinhados para cada um. Os indicados estariam espalhados em órgãos como Secretaria de Justiça, Procon, Administração de Sobradinho, Secretaria de Agricultura, Secretaria de Educação e Administração Regional do Lago Sul.
A presidente afastada da Câmara, Celina Leão (PPS), teria 180 indicados no Detran, no Zoológico e nas administrações de Guará e Sobradinho. A tabela também informa 70 indicações políticas de Roosevelt Vilela, político que foi suplente de Joe Valle na Câmara quando ele assumiu a Secretaria de Trabalho e Direitos Humanos.
A tabela também atribui cargos aos deputados Professor Israel (PV), Julio Cesar (PRB), Agaciel Maia (PR), Sandra Faraj (SD), Telma Rufino (sem partido), Lira (PHS), Liliane Roriz (PTB), Cristiano Araújo (PSD), Juarezão (PSB), Luzia de Paula (PSB), Professor Reginaldo Veras (PDT) e Rodrigo Delmasso (PTN). As vagas correspondem a áreas de militância dos políticos (como educação e saúde), ou aos redutos eleitorais de cada distrital. Veja o posicionamento dos deputados ao fim do texto.
Mais documentos
Outro arquivo apreendido é uma conversa entre Liliane Roriz (PTB) e Celina Leão. A presidente afastada da Câmara aparece “se gabando” de ter arquivado “coisas” contra a colega. Liliane é uma das colaboradoras da operação Drácon, ao ter decidido entregar gravações que fez de outros parlamentares ao Ministério Público.
“Eu gostaria de ter seu voto pra mim, porque, para mim, é muito feio. Eu convivi com a sua família a vida inteira. Não ter seu voto, para mim, é muito ruim, pessoalmente, como pessoa. E tem uma coisa que você sabe. Sacanagem, sujeira. Liliane, eu arquivei as suas coisas em cinco minutos, eu nunca te deixei”, afirmou.
Em outra conversa, a deputada Liliane e um homem do governo, identificado apenas como “Zé”, discutem qual deputado indicariam para a administração do Itapoã. “Deixa eu te falar uma coisa do fundo meu coração. Isso é muito pouco para mim. Muito pouco porque eu sou uma deputada diferenciada”, disse.
De acordo com os investigadores, houve tentativa de obstruir o trabalho de apuração. Um exemplo que citam é o dos deputados Celina Leão e Julio Cesar, que teriam se desfeito de celulares antigos na véspera da primeira fase da operação Drácon, em agosto. Conversas recuperadas, no entanto, mostram que eles acompanhavam as ações do MP. O pedido de suspensão do mandato é para que deixem de usar os cargos para impedir as investigações.
Outros lados
O deputado Cristiano Araújo disse esperar que a ampla defesa seja respeitada para que a situação seja esclarecida com rapidez. Celina Leão afirmou que vai provar na Justiça o que considera falhas e omissões no inquérito. Julio Cesar disse que só iria se manifestar depois de conhecer as denúncias. Raimundo Ribeiro afirmou que não existem elementos que indiquem a participação dele em ato ilícito.
A defesa de Bispo Renato afirmou que a denúncia é tecnicamente fraca, não aponta prova de ato ilícito praticado pelo parlamentar e a forma como as conversas foram interpretadas não passa de “mera dedução do MP”. A deputada Sandra Faraj diz que desconhece a planilha.
Em nota, Telma Rufino disse que o número de 70 indicações \”não condiz com a realidade\” e que tem 55 pessoas nomeadas por ela na administração de Águas Claras. Liliane Roriz diz que chegou a ter 60 indicações na administração do Recanto das Emas, como está na planilha, mas todos foram exonerados em setembro.
Segundo Joe Valle, as indicações atribuídas a ele na Secretaria de Agricultura, na Emater e no Ceasa foram feitas pelo governador Rollemberg e pelos gestores que o governador escolheu. O distrital diz que fez apenas \”poucos ajustes\” na equipe da Secretaria de Trabalho, que comandou entre outubro de 2015 e agosto de 2016, porque o quadro de pessoal \”já estava completo\”.
Sobre a lista com os supostos cargos comissionados ocupados por indicações da deputada Distrital Telma Rufino, a parlamentar esclarece que o número de 70 cargos não conduz com condiz com a realidade. De acordo com a Distrital, a Adm. conta com 55 cadeiras ocupados por meio de suas indicações.
Em nota, Juarezão afirmou que \”é comum que parlamentares tenham participação na administração pública\”, quando integram a base do governo, mas disse que \”o registro quantitativo desses quadros, no entanto, parece um tanto arbitrário\”.
Por telefone, Rodrigo Delmasso disse que as 20 indicações na administração do Guará existem, mas foram feitas pelo PTN e não por ele, pessoalmente. O administrador da região, André Brandão, é vice-presidente regional da legenda comandada por Delmasso.
Os outros deputados que teriam indicações no governo não responderam até a publicação desta reportagem.
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