Mario Pontes
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Rio – Há cem anos, no dia 28 de junho de 1914, quando desfilava em carro aberto pelas ruas de Sarajevo, capital da Bósnia, o herdeiro do trono austríaco e sua mulher foram mortos, a tiros de pistola, pelo estudante Gavrillo Princip. O crime causou grande comoção, mas não era fortuito. Os Habsburg, seculares donos da Áustria, gastavam boa parte de suas energias na luta pela expansão do império à custa dos vizinhos. No século anterior haviam dobrado a Hungria e fatias dos Bálcãs; em 1908, anexado a Sérvia.
A dominação austríaca levou à criação de vários grupos de resistência clandestina. A um deles, União ou Morte (popularizado como Mão Negra), tinha aderido Gavrillo. Naquele dia de junho de 1914 ele era um dos indignados com a demonstração de força dos Habsburg, que depois de dobrá-los mandavam o futuro dono da coroa humilhá-los com sua presença. Desesperado, Gavrillo decidiu responder com violência à petulância dos novos senhores.
Seu gesto serviu de pretexto à Áustria para, um mês depois, declarar guerra aos sérvios. E para que, semanas mais tarde, seu poderoso exército começasse a bombardeá-los com Os canhões de agosto (The guns of August), como a historiadora norte-americana Barbara Tuchman intitulou seu fascinante livro sobre a I Guerra Mundial, feita ao custo de 20 milhões de vidas, ainda assim um pouco menos da metade das que seriam ceifadas, a partir de 1939, pelos exércitos do austro-alemão Adolf Hitler.
Entre as lições do 28 de junho, esta é uma das mais óbvias, até por estar presente em muitas outras páginas da História: quando se propõem a fazer a guerra, dar um golpe, fatiar uma nação, os sumo sacerdotes do poder só necessitam de um pretexto para atacar o adversário. O resto é retórica.