O Brasil observou, estupefato, a diretoria do Banco Central promover, no fim de janeiro, um novo aumento da taxa Selic, para 13,25%, revelando que o problema não era apenas Campos Netto, seu ex-presidente bolsonarista, mas sim a propalada “autonomia” do BC. Mudou sua diretoria, assumiram sete novos diretores (de nove) indicados pelo presidente Lula, e persiste sua absoluta submissão ao mercado financeiro, cujo resultado é o favorecimento de uma minoria e uma verdadeira sabotagem à economia nacional.
Cinco dias antes da reunião do Copom, o IBGE divulgou que o IPCA-15 de janeiro/2025 havia sido de 0,11%, em clara desaceleração em relação ao IPCA-15 de dezembro (0,34%), evidenciando que não há nenhum sintoma de explosão inflacionária no horizonte.
Claro que há um aumento maior dos preços dos alimentos, oscilando de 6% a 10% ao ano, dependendo do estado (8% na média nacional). Mas trata-se de uma inflação que não guarda relação direta com a renda das famílias, decorrendo principalmente de fatores como a escalada recente e abrupta do dólar e a existência de baixos estoques reguladores, fruto da inação do governo na área.
Mas a diretoria do BC ignorou esses fatos e preferiu dar ouvidos às análises falaciosas dos “economistas” do mercado financeiro, que insistem em risco de um novo “estouro da meta de inflação”, que em 2024 foi de pífio 0,33 ponto percentual.
A ata do Copom recém-divulgada já antecipa um novo aumento da Selic para 14,25% e afirma que a elevação pode continuar. O comunicado alerta para os riscos trazidos pelo “dinâmico crescimento da economia e do emprego” no momento em que o Caged informou que o país gerou 3,1 milhões de empregos com carteira assinada em 2023/24 e o IBGE divulgou que alcançamos a menor taxa de desemprego de sua história desde 2012 (6,6%).
As consequências de uma Selic tão elevada são mais que conhecidas: encarecimento do crédito às empresas e redução do investimento produtivo; encarecimento do crédito às pessoas e redução do consumo; agravamento do endividamento das famílias; queda na geração de empregos; redução do crescimento do PIB; aumento dos gastos com juros da dívida pública para mais de R$ 1 trilhão em 2025 e, consequentemente, aumento da dívida pública.
A atividade industrial, que vinha se recuperando desde o início de 2023, já dá sinais de desaceleração. O mesmo ocorre com o setor de construção civil, um dos principais responsáveis pela recuperação do emprego. O resultado final veremos no final do ano com o crescimento do PIB desacelerando do atual patamar de 4% ao ano para algo próximo a 2%.
E quem são os principais favorecidos pela decisão do BC? Uma reduzida “elite”, cerca de 2 milhões de pessoas, que formam o clube vip do 1% mais rico, grupo com rendimento familiar anual próximo a R$ 1 milhão, com grande parte de seus “rendimentos declarados” provenientes de juros auferidos com aplicações financeiras, além de dividendos recebidos e não tributados.
Ainda há tempo para corrigir a rota. Em relação aos preços dos alimentos, o governo deve trabalhar para recompor os estoques reguladores, recorrendo, se for o caso, à importação; estimular os pequenos produtores não concentrados na produção de commodities (soja/milho/cana) e taxar os sobrelucros auferidos com as exportações das commodities agrícolas decorrentes da alta do dólar.
Alega-se que se a nova diretoria do BC não seguisse o que a ata do Copom previa, estaria sendo “contratada” uma grave crise com o mercado financeiro. Ocorre que para evitar essa crise foi “contratada” outra muito mais grave, que remete o País para a desaceleração econômica, com a inevitável crise social.
Em 19 de março ocorrerá nova reunião do Copom para elevar a Selic para 14,25%. É crucial que tal não ocorra. Os interesses do mercado financeiro não podem se sobrepor aos interesses da Nação brasileira. É preciso que o governo federal, com o apoio das entidades empresariais da indústria, da construção civil, do comércio e das organizações democráticas da sociedade mobilizadas obstruam tal curso.