Na mais recente bravata, Jair Bolsonaro afirmou que “quem decide se um povo vai viver na democracia ou na ditadura são as suas Forças Armadas”. Assim, o Presidente demonstra, mais uma vez, a sua verdadeira face de golpista e o seu desprezo pela sociedade civil.
A afirmação é de uma ignorância abissal. Onde isso está escrito? A Constituição dá respaldo a esse entendimento? Quem defendeu isso, além dele próprio? Só um protótipo de ditador é capaz de fazer uma interpretação dessa, ainda que ela seja parcialmente correta, se considerarmos que nenhum golpe se sustenta sem o poder militar, seja como protagonista, seja como cúmplice.
São exemplos disso, os inúmeros golpes e períodos de exceção que já sofremos ao longo de nossa história, todos atos de covardia contra a sociedade civil.
A verdade é que sempre que Bolsonaro percebe que está perdendo apoio e ameaçado de impeachment, procura blindar-se, usando as Forças Armadas como escudo. E o mais estarrecedor é que só poucos integrantes dessas Forças têm a coragem de vir a público e tranquilizar a população, afirmando, de forma inequívoca, o respeito à Constituição e que as Forças Armadas existem para garantir a democracia e a segurança do País. Ou seja, existem para servir ao povo e não para comandá-lo.
Com essas bravatas, Bolsonaro pretende ameaçar a sociedade civil, levando-nos a recordar um pesadelo que ainda nos assombra – a ditadura militar de 1964, com todos os seus crimes e ilegalidades. Veladamente, quer que o povo se poste de joelhos diante das Forças Armadas, tentando, ainda, nos fazer crer que elas estão sob seu poder.
Ao conceder benefícios e privilégios e enaltecer essa instituição, conferindo-lhe poderes que ela não tem, acredita que, no caso de um golpe, estará ela sob seu controle e que ele será o escolhido para continuar no comando do País.
Faz essas afirmações inconstitucionais na esperança de que, assim falando, os integrantes das Forças Armadas o considerarão um verdadeiro herói, passando a ser mais fiéis a ele do que à Nação. E isso, às vezes, é a percepção que, infelizmente, temos.
Mas, esquece-se ele de que a conjuntura internacional, ainda mais depois da derrota vergonhosa do seu ídolo-mor Trump, não comporta mais uma ditadura militar, que representaria um grande retrocesso civilizatório.
Confiemos que as Forças Armadas ainda conservem capacidade de reflexão, entendam e se conformem com o relevante papel que lhes compete numa democracia, afastando-se da tentação golpista. Só assim deixaremos de ser uma “república de bananas”.
(*) Advogado