Anna Bibeiro (*)
Sentada no banco, mochila nas costas. O balançar dos pés deixava evidente a ansiedade. Entre as mãos espalmadas em oração, a passagem. Mas, para onde? Per dove? O barulho dos trens em direções opostas se apresentava como todas as outras escolhas na vida: não é difícil escolher um caminho, difícil é abandonar os muitos outros possíveis caminhos.
Fazia frio e fragor. Dentro e fora dela o mesmo tremor. O mesmo temor. Era sustentada por ter ultrapassado os limites que ela mesma havia se imposto. Chegou até à estação. Já estava a caminho, ainda que não soubesse o destino. A viagem já se apresentava.
Os trens pareciam cada vez mais velozes, como se uma urgência se aproximasse. O barulho agora era também dentro dela. O destino ainda em branco, em aberto. Para onde? Nas costas a mochila vermelha carregava sonhos, expectativas, um amor antigo, uma lembrança de criança e, num bolsinho menor, alguma esperança.
Aguardava o convite como uma noiva. O inesperado se apresentava. Estava noiva de si. Somente ela podia fazer o convite, aceitar ou negar. Tudo nas suas mãos.
Já não suportava ficar sentada. Caminhava entre as plataformas. Desvendou-se. Descobriu-se. Agora, ela corria para celebrar. Olhava para a bilhete novamente, apareciam todos os destinos. Era livre para ir; escrava apenas da escolha.
O segredo não está em partir ou em ficar. A graça da coisa está em “estar”. Estar presente e de mãos dadas consigo, seja lá onde for. O melhor lugar do mundo é a sua casa itinerante, seu corpo e sua alma.
Boa viagem, caro leitor. Aproveite-se!
(*) Escritora