Por: Rayssa Tomaz (*)
Eu sonho com o impeachment do Bolsonaro desde quando disputei a eleição. Gostava de brincar que se tivesse sido eleita já protocolaria um pedido de impedimento na sequência do ato da posse, sem nem esperar a chuva de bizarrices que seguiram nos últimos dois anos.
Mas, apesar do desejo enorme de extirpar esse ser medonho que tanto mal tem feito ao Brasil, é preciso reconhecer que política é uma arte, uma ciência matemática. Na democracia representativa, aquele conjunto de parlamentares representa (ou deveria representar) o povo. E os votos individuais precisam se aglutinar para alcançar objetivos. Não se pauta só e apenas com os seus, nenhum projeto que precise de dois terços do Congresso.
Hoje, em recesso, a Câmara dos Deputados aguarda as próximas semanas para iniciar as atividades com a eleição da nova mesa diretora. Dos nomes postos, ao que parece, por análises políticas e de consultorias de fora da Casa, Arthur Lira (o nome que conta com as bençãos do Presidente da República) parece ter maioria confortável para se eleger.
Imagina-se que, embora blocos partidários tenham articulado apoio ao candidato sucessor de Rodrigo Maia (que muito embora seja um parlamentar do centro fisiológico, teve importante destaque na oposição ao Executivo e na emancipação e protagonismo do Poder Legislativo nacional), o nome de Baleia Rossi não deve ser confirmado para a presidência da Casa.
Muitos pedidos de impeachment aguardam na fila, desde 2020. Entre eles, uma peça brilhantemente produzida pela Executiva Nacional do Partido Verde. Com inúmeros e diversos embasamentos jurídicos sobre crimes e práticas nefastas, nenhum prosperou. Muitos cobram de Maia a aceitação de qualquer das iniciativas, como se, para ele, na linha sucessória, também não fosse interessante deixar o circo pegar fogo.
Acontece, como eu disse ali em cima, que política é uma ciência social, mas baseada em ações exatas. Não houve no passado e não há neste momento nenhuma chance numérica de um pedido desses avançar. Como não houve, por exemplo, adesão de número mínimo para abertura de CPI do Meio Ambiente ou para as convocações do ministro Salles, iniciativas das quais eu ativamente participei, coletando assinaturas da nossa combativa Bancada Verde.
Maia, chamado de traidor ou engavetador, na verdade, nos presta um importante serviço. Colocar o impedimento na pauta e ele não prosperar, favorece imensamente apenas Bolsonaro, que se fortalece entre os seus e no cenário nacional. A narrativa de David enfrentando Golias ganha contornos ainda mais contundentes nessa saga do nosso anti herói.
Neste contexto, Maia incorpora a figura do mal, quando deveríamos insuflar nossos ânimos contra aqueles que deveriam representar os interesses da sociedade; o conjunto de todos os parlamentares. Política não se faz com o estômago.
Maia não parece estar somando forças para conquistar a sucessão, e não abriria um pedido agora, no recesso, sabendo que se enfraqueceria ainda mais, saindo derrotado da presidência. Se Lira for aclamado presidente (o que não me parece tão distante neste momento), não irá pautar impeachment nenhum. E mesmo que aconteça, mais uma vez reforço que muito menos teríamos votos suficientes entre estes 513 deputados para tirar o presidente.
(*) Jornalista, assessora técnica e dirigente do PV