Em 1979, Ney Matogrosso bombava com ”Não existe pecado ao Sul do Equador”, frevo composto seis anos antes por Chico Buarque e Ruy Guerra para a trilha sonora da peça Calabar – Elogio à Traição. Não existia Internet. Rede social eram olho no olho. A música parece ter sido uma premonição para os dias atuais. Do lado debaixo do Equador, inclusive aqui no Quadradinho, o “pecado rasgado, suado, a todo vapor” corre solto, com apoio das plataformas de encontros sexuais.
Dados recém-revelados pela Sexlog, que se apresenta como “o maior site de sexo e swing da América Latina”, apontam que, em 2023, a plataforma foi acessada por 20 milhões de usuários no Brasil, aproximadamente 15% da população brasileira com 15 anos ou mais. O crescimento foi de 10%, sendo que a região Centro-Oeste ficou acima da média: 16,8%. Mato Grosso e Mato Grosso do Sul lideram, com alta de 18,9%. Em seguida aparecem Goiás, com 16,4%, e o Distrito Federal, com 13,2%.
O refrão de Chico Buarque, explica a jornalista Natália Pesciotta, foi subtraído de um antigo ditado europeu Ultra aequinoxialem non peccari (Não pecar além do equinocial, em tradução livre), registrada pelo cronista holandês Barlaeus, em 1641. “É como se a linha que divide o mundo em dois hemisférios também separasse a virtude do vício”, explicou ele.
“Ocupado por desbravadores com espírito de aventura, este trópico era visto no Velho Mundo como verdadeiro antro de perdição. Já para os estrangeiros exploradores, estas terras sem instituições sociais nem religiosas eram o paraíso da utopia e liberdade, onde nada era proibido”, comenta ela.
Campeã em número de motéis
É sabido que economicamente, os três estados possuem uma economia essencialmente rural, baseada no agronegócio, e com sociedades tidas como conservadoras e bastante religiosas. Entretanto, Aparecida de Goiás, na região metropolitana de Goiânia, acaba de conquistar o título de ser a maior cidade em número de motéis por metro quadrado da América Latina, “um verdadeiro refúgio do pecado”, sentenciou o portal goiano de notícias, Curta Mais.
Esses números revelam outra premonição musical vocalizada por Ney Mato Grosso: “É debaixo dos panos que a gente esconde tudo / E não se fica mudo / E tudo quer fazer”. Ainda mais no universo das suítes temáticas, piscinas aquecidas e saunas privativas?
Em Brasília, uma cidade que, segundo o Censo, mais de 2 milhões dos 3 milhões de habitantes são cristãos (católicos ou evangélicos), onde há mais templos do que escolas, as preferências sexuais, relatadas pelos inscritos no site, fogem à tradição padrão.
O sexo, para resgatar o frevo, tem que ser rasgado, a todo vapor. A preferência é por orgias, swings e gang bang (uma prática sexual onde, ao longo do dia, uma mesma pessoa transa com o maior número de parceiros do sexo oposto).
A prática não é novidade, no século XVIII, artistas, como o britânico Thomas Rowlandson, já a registravam em aquarelas. O que parece ter mudado é a magnitude. O recorde, segundo a Wikipédia, é da atriz pornô Lisa Sparxxx: 919 homens, em um mesmo dia, um a cada 1 minuto e 34 segundos, em média.
Fetiches sexuais e ideologia
Ideologia e fetiches sexuais parecem não andar juntos na Capital Federal, mesmo quando se constata que, nas últimas eleições, 70% dos seus moradores maiores de 16 anos votaram em candidatos que diziam defender os valores da família, a moral e Deus acima de tudo, e que combatiam as famílias homoafetivas ou monoparental.
Quando os casos são as preferências, a ideologia parece ser jogada de lado, juntamente com as roupas dos parceiros. O Sexlog relata que por essas bandas ao Sul do Equador, a predileção é pelo sexo anal – sem definir se passivo ou ativo -, relação com homens bem-dotados e voyeurismo, quando uma pessoa atinge a excitação sexual intensa apenas observando as práticas sexuais de outras.