O alerta já foi dado e reiterado. O Governo do Distrito Federal não pode fazer ouvidos moucos. Depois da carnificina na escola infantil de Blumenau, do alarme falso de massacre no Centro de Ensino Fundamental do Paranoá e outro no Centro de Ensino Médio nº 1 do Gama, são necessárias medidas urgentes e eficientes.
A rede pública possui 455 mil alunos em 683 escolas. Outros 170 mil estudantes estão em 570 escolas privadas; 143 mil nas faculdades privadas, muitos à noite; e a UnB abriga 48 mil universitários. Ou seja, o DF tem 816 mil estudantes a proteger. Segundo especialistas, a segurança e tranquilidade nas escolas vai além da questão policial.
Desfalcado – O Batalhão Escolar, que já foi motivo de orgulho do brasiliense, está com efetivo bem abaixo do necessário. Quando criado, em 1989, eram 914 policiais para 529 colégios. Em 2018, tinha 304 policiais para 1.250 escolas.
O BE responde pela segurança de todas as escolas e faculdades do DF, exceto o campus Darcy Ribeiro, da UnB. A PM não informa o quantitativo atual de homens e mulheres que o integram, mas, considerando a evolução das baixas desde a sua criação e as reformas da previdência ocorridas nos governos de Temer e Bolsonaro, avalia-se que muita gente optou por ir para a reserva mais cedo para não se pego pelas mudanças nas regras da aposentadoria. E essas vagas estão longe de terem sido preenchidas.
Mas não basta colocar um policial na porta de cada escola. É preciso evoluir tecnologicamente. A maioria das escolas possui sistema de vigilância por câmeras, mas as imagens não chegam em tempo real à PMDF. Não há um monitoramento permanente. Somente após um chamado é que os policiais se deslocam. Essa modalidade de policiamento tem demonstrado ineficiência, pois quando as viaturas chegam à escola o dano já aconteceu.
Clima de violência afeta o aprendizado
O medo, a insegurança, os casos de bullying, brigas, e o clima de violência como um todo afetam o aprendizado dos estudantes, estressa professores e já fomenta a absentismo de alunos de diferentes níveis de ensino. Sem falar na apreensão de pais e familiares, que sempre viram as escolas como um local seguro. “Que ódio é esse que as pessoas estão adquirindo das escolas?”, questiona a ex-diretora do Sinpro-DF, Rosilene Correa.
A estratégia das autoridades de segurança foca 60 escolas consideradas mais vulneráveis. Elas são alvo de uma atenção especial da SSP, que diz poss’uir um plano de ação contra atentados que inclui fortalecimento do policiamento, visitas técnicas aos colégios e reforço do sistema de inteligência. Esse sistema promete monitorar as redes sociais, da deepweb, para identificar mensagens de apologia à violência nas escolas.
Além do policiamento
Para a especialista em segurança e ex-titular da pasta, Márcia Alencar, faz-se urgente a intensificação das rondas do Batalhão Escolar em escolas e creches para garantir a segurança e proteção dos alunos, famílias e servidores. Mas a ação deve ir além do policiamento tradicional.
Ela sugere três frentes: elaboração de um diagnóstico sobre as crianças e os adolescentes da rede de ensino a serem atendidos em programas de redução de vulnerabilidade infanto-juvenil; desenvolvimento de ações culturais e esportivas voltadas à cultura de paz nas escolas; e a criação de círculos de diálogos e oficinas de trabalho entre as direções das escolas, os conselhos tutelares, as representações estudantis e lideranças das comunidades locais para ampliação do controle social sobre o ambiente escolar.
Educadores de diferentes matizes pensam semelhante. Rosilene Correa pede, de forma emergencial, reforço na segurança
“Nossas escolas estão vulneráveis, nem porteiro têm. Mas não é a polícia fazendo a gestão das escolas, precisamos de um novo formato de gestão da educação”.
Ela defende uma ponte da área de Educação com a de Saúde e a da Cultura. Ideia compartilhada pela ex-diretora da Faculdade de Saúde da UnB, Fátima Sousa. “É preciso instituir o exercício permanente da cultura de paz e da não violência. Isso, se faz por meio de todas as instâncias da gestão pública, que deve ser descentralizada, ágil e flexível, criando-se redes de instituições parceiras”.
Ressalta que os agentes comunitários de saúde – que possuem uma grande capilaridade nas comunidades – podem contribuir, vindo a ser o elo entre as famílias e escolas, integrando-as às políticas públicas, ajudando a identificar sinais estruturais de violências, construindo territórios de paz.
Militarização não resolve
Uma ação que vai além da questão do policiamento também é a bandeira da professora Catarina de Almeida, da Faculdade de Educação da UnB. Segundo ela, desde o Massacre de Colombine, em 1999, os EUA já investiram bilhões em segurança policial, sem que o problema tenha se resolvido.
A militarização das escolas – na visão dela – não resolverá o problema e cita o exemplo do CEM do Paranoá, que conta com gestão militar. Recomenda diminuir o tamanho das turmas, de forma a permitir um melhor acolhimento pelos docentes e por uma equipe multidisciplinar, e dotar os colégios de liberdade para trabalharem questões sensíveis, como machismo, gênero e raça.