Filomena Madeira e Rayane Chaves
Discutido há décadas, enfim o túnel do centro de Taguatinga torna-se realidade para os moradores no dia que a cidade comemora seu 63º aniversário. A passagem de nível no coração do maior polo comercial do Distrito Federal promete aliviar o fluxo de veículos dos quase 230 mil habitantes, sem falar nos moradores dos arredores e nos caminhões abarrotados de mercadorias que cruzam Taguá diariamente em direção ao Plano Piloto, num sentido, ou a Ceilândia, no outro.
Iniciadas em plena pandemia, a obra do túnel foi orçado inicialmente em R$ 200 milhões. Hoje, o custo já gira em torno de R$ 275 milhões, sem mencionar o atraso de dois anos na entrega. O GDF culpa a a falta de componentes importados, mas as polêmicas em torno da obra de infraestrutura mais importante da gestão Ibaneis teve um longo caminho permeado por questionamentos judiciais, falta de orçamento e imprevistos durante a execução do projeto.
A sucessão de imbróglios judiciais antes, durante e após o início do serviço é um bom exemplo: o projeto estava parado no Tribunal de Contas do Distrito Federal desde 2014, por falta de previsão orçamentária, no governo Rollemberg. Dois anos depois, novo bloqueio, decorrente da irresignação de uma das empresas derrotadas no processo licitatório – uma das empresas do consórcio vencedor estava inabilitada para participar de obras públicas.
Retirada a empresa impedida do consórcio, no início de 2020 a autorização da obra foi assinada. Porém, um desafio monumental avizinhava: a covid-19. Com uma pandemia escala mundial sem perspectiva de resolução impactando em mão de obra, matéria prima e insumos, inevitavelmente o cronograma de execução seria afetado. Mas o governo optou por assumir o risco e iniciar a obra. Pagou – e caro – para ver.
Uma obra desafiadora
Em termos de valores, um sobrepreço de quase 40% do orçamento inicial num cenário de pandemia não pode ser considerado destoante. Por outro lado, o atraso de dois anos teve muito mais a ver com falhas no planejamento da obra do que da sua execução em si – como é corriqueiro em contratações governamentais.
Uma das primeiras interferências encontradas, em maio de 2021, foi a presença de cabos de fibra ótica na área onde seriam construídas as paredes do túnel. Sob pena de deixar a região sem acesso à internet, o cabeamento precisou ser deslocado 40 metros. Em seguida, foi a vez da rede de drenagem de águas pluviais impor mais um atraso na execução – foi necessário transferir as manilhas de escoamento de água em quase 800 metros.
A despeito desses imprevistos, o viaduto por si só já se colocava como um desafio. Em condições ideais, obstruir por tanto tempo o fluxo de veículos para realizar uma obra desta envergadura era garantia de muitas reclamações e transtornos. Porém, o solo argiloso da região inspirava cuidados. O desabamento da obra no metrô de São Paulo é um exemplo de como as coisas poderiam dar muito errado.
Para minimizar o risco de desabamento, optou-se pela técnica de escavação invertida. Ou seja, a passagem subterrânea só foi aberta depois que as paredes e o teto já estavam prontas. Foram 18 meses de trabalho e 65.000 m² de concreto para erguer todas as estruturas, trabalho que envolveu quase 400 trabalhadores em dedicação exclusiva. Três anos, muito concreto e dor de cabeça depois, a passagem de nível se agiganta no principal entroncamento de Taguatinga, ligando a EPTG à Via Estádio nos dois sentidos.
Trânsito ágil melhora a economia e a vida do cidadão
Não faltou transtorno durante todo o período da obra, o que afetou sensivelmente a região central e as áreas próximas à construção. Donos de estabelecimentos nas adjacências sofreram com a queda no movimento. Apesar disso, o apoio ao empreendimento é dominante. “Sabemos da importância e necessidade dessa obra. A expectativa é boa para depois da inauguração”, comentou a gerente de uma papelaria na região, Zenaide Pereira Silva, 64.
É pacífico que um trânsito mais fluente melhora a economia: com o deslocamento mais ágil, a tendência é de que pessoas que inicialmente evitavam ir a Taguatinga para frequentar o movimentado comércio local se sintam encorajadas a se deslocarem em busca de preços mais atraentes.
Sem falar na melhora no dia a dia do trabalhador comum: menos tempo preso no engarrafamento significa chegar mais menos desgastado no trabalho e mais cedo em casa. E, para quem possui veículo próprio, uma razoável economia de combustível.
População comemora
Uma obra de infraestrutura bem planejada é boa para todo mundo. A expectativa é de que o túnel, batizado em homenagem ao Rei Pelé, signifique uma guinada positiva na vida do morador de Taguatinga e de cidades vizinhas, como Ceilândia, Samambaia.