Alessandra Roscoe (*)
Com o grande sucesso da 1ª edição, em 2023, a centenária e histórica Paracatu, a 230 Km de Brasília, sediará a segunda edição do Festival Literário Internacional. De 28 de agosto a 1º de setembro, a cidade, que tem população majoritariamente negra e é um dos municípios mineiros com maior quantidade de comunidades quilombolas, vai celebrar o amor, a literatura e a diversidade com uma extensa programação gratuita, que será integralmente transmitida ao vivo e com qualidade 4k pelo canal do Youtube do FliParacatu.
Estarão presentes mais de 50 escritoras e escritores negros, indígenas e brancos representando várias regiões brasileiras, autores e autoras nacionais e internacionais, além de músicos e artistas de várias outras linguagens.
A programação será na Gira FliParacatu, um circuito cultural, criado pelo Fli, no Centro Histórico da cidade, com múltiplos espaços, cada um com sua programação específica e uma ampla livraria, que segundo o escritor Afonso Borges é o coração de cada Fli.
A trupe por ele, que é presidente da Associação Cultural Sempre um Papo, está ajudando a reescrever e recontar a história do País com festivais ricos, diversos, acessíveis e transformadores, a partir das vozes de escritores negros, de mulheres e indígenas.
A cada edição novas realizações e desafios são vencidos. Há quem brinque que gostaria de morar para sempre no país dos Flis, pois o Festival volta a Paracatu com um feito inédito: pela primeira vez um evento literário no Brasil terá em sua programação, entre os convidados, mais mulheres e negras que homens e brancos.
Homenagens – O FliParacatu tem Afonso Arinos (1868-1916) como o Patrono. Escritor, jornalista, jurista e imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL), Arinos nasceu em Paracatu e é considerado o “Pai do Regionalismo Brasileiro”, sendo precursor da literatura regionalista no Brasil. Ele retratou em suas obras a vida e a cultura do sertão mineiro, com destaque para “Pelo sertão”, publicada em 1898.
No 2º FliParacatu, o escritor indígena Ailton Krenak será o autor homenageado, celebrando a ancestralidade e a força e encantaria dos povos originários que nos ajudam a segurar o céu acima de nossas cabeças. Lucas Guimaraens será o poeta homenageado.
Fim da invisibilidade
O Festival homenageia, também, 21 professores negros da rede pública de ensino de Paracatu com a exposição Muros invisíveis. Eles terão suas fotos e histórias transformadas em painéis com acessibilidade em libras e áudio-descrição que ficarão expostos na Praça da Igreja Matriz, para celebrar seus legados e tirá-los da invisibilidade.
A exposição será o mote para outro ponto alto do Festival: o concurso de redação e desenho, que premia com dinheiro e troféus alunos da rede de ensino da cidade e estimula, mais do que a formação de leitores, o surgimento de novos escritores e ilustradores.
Uma segunda exposição já ocupa a Casa de Cultura, com os “Objetos da fé Afro Brasileiros”, do Museu do Oratório. São peças que fazem parte da história do Brasil colonial e revelam o sincretismo religioso que nos caracteriza culturalmente e nos liga com a fé das populações escravizadas, que precisou ser escondida em outros tempos e ainda hoje enfrenta preconceitos e violências.
O FliParacatu, apesar de estar apenas em sua 2ª edição já se consolidou como um evento importante no calendário turístico e cultural da região e movimenta a cidade de várias maneiras. Uma das iniciativas é o projeto Pão e poesia, que imprime versos e poemas nos sacos de pão, como forma de instigar a leitura onde nem se imagina, e alimenta o corpo, a alma e muitos imaginários!
Durante o período que antecede o Festival, estabelecimentos comerciais que vendem pão vão oferecer aos clientes as embalagens poéticas. O Festival atrai também as cidades vizinhas e movimenta o turismo local.
De Brasília, algumas caravanas estão sendo organizadas para prestigiar e viver o Festival. A bordadeira e escritora Marilu Dumont, da tradicional família de bordadeiros de Pirapora (MG) e do Matizes Dumont, esteve no primeiro FliParacatu e está disposta a voltar este ano. A poeta Elisa Maria Mattos, do Núcleo de Escritoras Pretas da Universidade de Brasília é volta a Paracatu, desta vez para lançar seus livros.
Saiba +
O FliParacatu tem como curadores Afonso Borges, Tom Farias, Sérgio Abranches e Leo Cunha. O quarteto realiza também o FliAraxá, o FlItabira e o FliPetrópolis e vem consolidando uma bela trajetória de encantamento pelo País, juntando arte, história, educação e até mesmo revolução, ao ajudar a recontar histórias do Brasil profundo pelas vozes de seus verdadeiros protagonistas.
Convidados nacionais e internacionais
A lista de convidados é ampla e plural: Afonso Borges, Ailton Krenak (foto), Alessandra Roscoe, Anielle Franco, Bianca Santana, Conceição Evaristo, Djaímilia Pereira de Almeida (Portugal), Edney Silvestre, Eliana Alves Cruz, Eliana Marques, Emanuele Arioli (França), Estevão Ribeiro, Flávia Helena, Geni Núñes, Guilherme Amado, Igiaba Scego ( foto/Itália), Itamar Vieira, Jamil Chade, Jeferson Tenório, Joana Silva, Joca Terron, Juliana Monteiro, Leo Cunha, Lívia Sant’Anna Vaz, Marcia Tiburi, Marco Haurélio, Matheus Leitão, Miriam Leitão, Myriam Scotti, Paloma Jorge Amado, Paulo Lins, Paula Gicovate, Rafael Nolli, Roberto Parmeggiani ( Itália), Ruth Manus, Sérgio Abranches, Sérgio Rodrigues, Simone Paulino, Taiane Santi Martins, Teresa Cárdenas (Foto/Cuba), Tino Freitas, Tom Farias e Trudruá Dorico estão entre os confirmados.
O evento é patrocinado pela Kinross, via Lei Rouanet do Ministério da Cultura e tem o apoio da Prefeitura de Paracatu, da Academia Paracatuense de Letras e da Fundação Casa de Cultura e terá atividades culturais acessíveis, inclusivas, antirracistas, éticas, educativas e artísticas, carregadas de conceito e conteúdo. A diversidade é a marca registrada do Festival.