Juscelino Kubitscheck desceu de seu helicóptero branco e subiu na Romi Isettina, na entrada da cidade que ainda não era, oficialmente, uma cidade, e muito menos podia ser chamada de Capital. Chovia bastante naquela manhã de segunda-feira, 2 de fevereiro de 1959. Mas ele não deu a menor importância.
Com o braço direito acenando festivamente, com aquele largo sorriso inconfundível que dava pra gente enxergar e sentir a magia de longe, recuperando o cansaço mesmo para quem (como eu), acabava de percorrer 2.277 quilômetros, dos quais 450 km descobrindo trechos da selva amazônica ainda virgem, atravessando rios e montanhas, cobrindo a distância entre Belém do Pará e Brasília.
Na verdade, tratava-se da histórica Caravana de Integração Nacional que concretizava o decreto federal assinado por JK sobre a construção da rodovia Belém-Brasília, sendo encarregado para a tarefa o engenheiro carioca Bernardo Sayão, que conhecia a área de Goiás como ninguém.
A intenção era mostrar a interligação do País por meio de rodovias e, no presente caso, a convergência para o Planalto Central desde o Norte, então desconhecido, unindo-o a Oeste e a Leste na descoberta do novo Brasil. E também que as distâncias poderiam ser vencidas pelos veículos produzidos pela recém-criada indústria automobilística nacional.
Partindo de Belém a 14 de janeiro de 1959, a caravana automobilística (na qual viajavam 35 jornalistas em jipes Rural Willys, dos quais coube um veículo a mim e ao fotógrafo Joaquim Ribeiro, do jornal Última Hora, do Rio de Janeiro), teve uma brilhante comemoração ao percorrer as ruas arborizadas de mangueiras da antiga capital do Pará, cujo Estado ainda se encontrava isolado do resto do País em se tratado de estradas.
Essa mesma euforia popular aconteceu quando o comboio estacionou em Goiânia, na véspera de chegar à Capital. Mas, infelizmente, Bernardo Sayão não pôde participar porque faleceu sob a queda de uma gigantesca árvore na tarde de 15 de janeiro, próximo à Vila Ligação, na localidade de Ulianópolis, não muito distante de Belém.
Quanto a mim, hoje comemoro em meu coração a inauguração de Brasília em 21 de abril de 1960, da qual também participei, dando vivas:
– Parabéns, bem-amada Brasília, pelo seu 58º Aniversário!