O deputado distrital Wasny de Roure, um dos cinco pré-candidatos ao Senado pelo PT, está em seu sexto mandato parlamentar nas Câmaras Legislativa e Federal. Diferentemente da maioria dos políticos, tem o hábito de visitar as cidades-satélites e conviver com os problemas da população, principalmente a mais pobre. Nesta entrevista exclusiva ao Brasília Capital, ele defende seu partido dos ataques do ex-correligionário Cristovam Buarque (PPS), para quem “o PT é conservador, não representa o povo e é um partido dos sindicatos”. Caso estivesse no lugar de Cristovam, Wasny garante que teria votado contra a PEC 95, do teto dos gastos.“Ele se aproximou muito das teses defendidas pelo governo Temer. Num momento crucial da história brasileira, não mostrou a diferença que ele construiu na política. Como senador, anuiu o afastamento de uma presidenta legitimamente eleita sem mostrar um mínimo de razão, de fato, para ser afastada da presidência. O ex-governador e atual senador se distanciou inclusive de medidas que ele alega ter enorme acúmulo, como a educação e políticas que ele desenvolveu em sua gestão no governo do DF”. Embora crítico do governo de Rodrigo Rollemberg, Wasny discorda de Cristovam quando ele diz que a atual gestão do Buriti não deixará um legado para Brasília. “Não entendo que o governo dele seja um desastre do ponto de vista de legado. Pergunta-se: qual legado do governo Cristovam? A faixa de pedestre?”.
Como pré-candidato ao Senado, o que o faz acreditar que o senhor pode ser um bom representante de Brasília no Congresso?
Creio que é um espaço muito importante para Brasília levar suas demandas enquanto comunidade e sociedade. Nós temos, por exemplo, a crise extremamente grave na saúde e, enquanto isso, o Fundo da Saúde onde parte significativa dos recursos é devolvida. Embora, felizmente, em dezembro tenha havido uma pequena mudança. Na educação temos desafios gigantescos, tanto no conteúdo quanto no financiamento, seja na infantil ou técnica, seja na educação universitária. Portanto, são temas que temos que aprofundar, fazer uma avaliação de como os recursos têm sido utilizados, como podem ser melhor utilizados e como ampliar esses investimentos.
O senhor está no sexto mandato parlamentar como deputado distrital e federal. Acredita que essa experiência o ajudará para disputar uma vaga no Senado?
Nesses últimos anos, nos especializamos no debate do Fundo Constitucional do DF. Inclusive, um mês atrás apresentei um trabalho no Tribunal de Contas do DF para ser examinado e, eventualmente, se concordarem com nossa tese, encaminhar ao TCU. Esta semana tenho um encontro com o secretário da Fazenda para discutir o assunto. O que se observa é que temos grandes autoridades responsáveis por assuntos tão relevantes, mas que acabam não debruçando sobre o conteúdo técnico ou legislativo, e não percebem o volume de recursos que Brasília tem perdido por ter dificuldades na execução dos recursos.
Perder o recurso também é desconhecimento da realidade da cidade? Os contatos com a comunidade facilitaria o possível trabalho do senhor no Senado?
Isso é uma parte da verdade. Acho que há dois elementos. Primeiro, é conhecer a ponta da cidade. A gente é muito estimulado a estar acomodado nos tapetes da estrutura (Câmara Legislativa, Federal ou Senado). Isso é próprio do ser humano. Não cabe a mim condenar ninguém. Temos que estar sempre motivados a ir aos rincões da cidade. Brasília não é mais o Plano Piloto. É um equívoco aqueles que transitam nas asas do Plano Piloto achando que está conversando com a cidade. A cidade hoje é Pôr do Sol, é Ceilândia, com mais de 600 mil habitantes; Gama, que tem uma ampliação silenciosa com a Ponte Alta, Planaltina, que tem uma cidade silenciosa que pulsa, que amplia e que não dialoga com nossa classe política. É importante que nós saibamos os pontos de estrangulamento.
Mas é com essa classe política que o senhor também precisará compor sua candidatura majoritária. Como está o seu planejamento de campanha do ponto de vista dos apoios de candidatos a deputado federal, distrital e governador?
Confesso que estou na expectativa de uma definição do partido. Sou pré-candidato. O partido só deve definir isso no início de junho. O que estou fazendo é conversando. Tenho uma história de serviço prestado à cidade, sempre muito cuidadoso com minha conduta na vida pública, e estou dialogando com a cidade, com as lideranças, para saber como estão entendendo esse momento.
E o que senhor tem ouvido por aí?
O que nós temos é que uma parte significativa da classe política de Brasília se associou ao governo Temer, e se associou às medidas de retirada de direitos, retiradas de orçamentos e procedimentos, principalmente das áreas da Saúde e Educação. Um governo que até recentemente ameaçou a Previdência, sem mostrar um reconceituar aquilo que de fato ele deveria agir na Previdência. Foi penalizando sobretudo os menos favorecidos, além das medidas que tomaram com relação à redução de direitos trabalhistas de uma forma abrupta, muito baseada num Congresso já bastante descredenciado, sem muita interlocução com a sociedade civil.
O senhor vai enfrentar alguns nomes de peso na política local. Um deles é o senador Cristovam Buarque, que, em entrevista ao Brasília Capital, criticou o PT. Qual sua leitura dessas críticas?
O Cristovam, a quem tenho respeito pela sua história, inclusive trabalhei com ele, mas tenho algumas observações. Em primeiro lugar, ele se aproximou muito das teses defendidas pelo governo Temer. Segundo, ele, em um momento crucial da história brasileira, não mostrou a diferença que ele construiu na política. Como senador, anuiu o afastamento de uma presidenta legitimamente eleita sem mostrar um mínimo de razão, de fato, para ser afastada da Presidência. Nós temos um conjunto de perguntas sem respostas que nos convençam. Há um outro elemento: o ex-governador e atual senador se distanciou inclusive de medidas que ele alega ter enorme acúmulo, como a educação e políticas que ele desenvolveu em sua gestão no governo do DF.
Além do PT, também sobraram críticas para o governador Rollemberg, a quem ele acusa de ter se isolado…
O Cristovam se ausentou, e aí atribui ao Rollemberg, ao PT. O que eu considero grave na entrevista dele é que acusa o PT de corrupção. E, me parece, inocenta todos os demais. Creio que para fazer uma análise, tem que fazer uma análise da crise da política brasileira. Nós temos problemas no PT, sim, como eu creio que todos os partidos, inclusive o dele, têm, e respondem por isso, inclusive na nossa cidade. Creio que ele, para fazer acusações de corrupção, tem que dizer fatos, nomes, e que medidas ele fez, enquanto senador, para apurar esses problemas que ele considera tão graves no PT. Então, não basta ele dizer e fazer as críticas ao PT, sem que, enquanto senador, enquanto fiscalizador da República, tenha tomado medidas objetivas com relação à corrupção no País.
O senhor considera justas as críticas do senador ao governo Rollemberg? Por exemplo, dizer que a gestão dele não deixaria legado para Brasília? Rollemberg realmente passará em branco dessa forma?
Eu tenho várias divergências com o método, o modo e a leitura de prioridades do governador Rollemberg. Não entendo, contudo, que o governo dele seja um desastre do ponto de vista de legado. Pergunta-se: qual legado do governo Cristovam? A faixa de pedestre? De fato, ele construiu 1.100 salas de aula. De fato, o governo Rollemberg não teve a mesma postura de investimento, houve um recuo nos investimentos. Mas o momento da cidade é totalmente diferente. Creio que há medidas que foram importantes para Brasília, como creio que foi um governo que teve uma postura de retaliação ao servidor público e de absoluta crucificação ao pobre, ao menos favorecido que mora numa situação constrangedora, irregular, e que entende que tem que ser na base da demolição. Isso que é grave.
Cristovam disse que ele é um parlamentar do povo, mas que o PT não é do povo, e sim dos sindicatos. O senhor concorda com isso?
Em primeiro lugar, ele deveria respeitar os sindicatos, porque são organizações dos trabalhadores. Têm defeitos? Isso é do processo. Agora, ele tem que ter a leitura que ele há muito tempo não dialoga com a população do DF. Ele não é tanto o senador do povo. Acho que, nesse sentido, ele deveria ter um pouco mais de consideração com as entidades e as organizações dos movimentos sociais. Ele perdeu o diálogo com esses movimentos, com os sindicatos e, o pior, perdeu o diálogo com seus antigos companheiros da UnB. Ele deveria lembrar disso, que ele poderia reencontrar a sua caminhada política e entender porque ele acabou se afastando da universidade, porque se aproximou demais do governo Temer para justificar o espaço que seu partido adquiriu no governo federal.
Como senador, o senhor votaria a favor da PEC 95, do Teto dos Gastos?
De forma alguma. Creio que é um crime contra a Educação e contra a Saúde. Se o Cristovam defende tanto a educação, deveria refletir no que há de concreto. Defender o equilíbrio das contas é correto. Agora, defenda e perceba onde há perdas de recursos. Por que se vota perdão fiscal como o Congresso tem votado de maneira vergonhosa contra o povo? Ou seja, perdoar aos infratores, estimulando quem é correto a ser negligente. Não sentir que vale a pena ser correto nos recolhimentos tributários. Uma das coisas mais vergonhosas no País, que infelizmente nosso Legislativo tem dado anuência, é o processo de endividamento fiscal daquele recurso tributário que caberia ao povo receber na forma de políticas públicas eficientes.
O senador alega que, nesse novo formato que a PEC 95 trouxe, caberia a cada área lutar por seus recursos. O senhor acha que é uma luta igual as pessoas cobrarem recursos para educação contra, por exemplo, o lobby da construção civil por grandes obras do governo?
Não consigo entender quem critica os sindicatos, que tem como uma das tarefas fazer exatamente essa luta, ao mesmo tempo dizer que eles vão ter que lutar para garantir os recursos para essas áreas. Quem são os grupos que ele imagina lutando por esses recursos? Servidores? Crianças? Estudantes? O que aconteceu na última semana, quando os estudantes da UnB foram recebidos a pauladas pela polícia? Qual foi o discurso feito no Senado Federal para contraditar essa agressão à educação superior e à UnB, que vive uma crise orçamentária de grande magnitude?
Ele foi negligente?
Creio que ele poderia ter sido mais eficiente. Uma pessoa de grande visibilidade, uma presença dele, uma atitude numa crise dessas seria totalmente diferente. Defender a universidade de onde ele é oriundo, para a qual tem muito contribuído e pode contribuir muito mais. Creio que temos que ter um pouco de humildade ao analisar o problema e ao tentar enfrentar e como encontrar saídas para esse problema.
Qual sua mensagem para Brasília como pré-candidato ao Senado?
Este é um ano de repactuar nossas esperanças. Nós temos que entender que nós recebemos uma cidade do povo brasileiro, e temos um dever com o povo brasileiro de preservar essa cidade. Brasília nos tem dado muito, como saúde, educação. Nós temos problemas sim, mas temos que encontrar saídas para eles. Não é fugir dos problemas. Nossa classe política tem que se debruçar sobre os pequenos problemas para entender os grandes problemas. Às vezes querem entender os grandes problemas nacionais, mas não entendem os problemas da escola local, não encontram pequenas soluções para reforma de banheiros, cobertura de quadras, por exemplo. É aí onde está a ausência da nossa classe política. Felizmente, alguns começam a se movimentar para recuperar esse tempo perdido.
Os parlamentares de Brasília teriam que exercer, também, o papel de vereadores? – Exatamente. Brasília é estado e município ao mesmo tempo. Portanto, não podemos fugir daquilo que é o nosso dia a dia. O que temos que fazer é andar, conhecer, ter contatos, dialogar com professor, com policial, com servidor da saúde, ver como enfrentar essa crise tão nefasta que estamos vivendo. Nós temos condições de superar tudo isso. Eu acredito no povo desta cidade. Acredito que iremos superar todas as dificuldades.