A verdade é que o ser humano é um eterno inacabado e está constantemente em busca de algo para sentir-se satisfeito. Fato é: vontade e necessidade são coisas distintas. Por trás da vontade, estão estímulos externos que, socialmente, despertam a necessidade de pertencer, ser para o outro aceitável, bem quisto e bem visto, como o tido bem-sucedido, que hoje, nada mais é que aquele que consome produtos legitimados pelas grandes marcas.
Muitas vezes, a busca pela satisfação mascara a real necessidade (aquilo que é essencial para a minha sobrevivência) e, então, o que instantaneamente satisfaz, torna-se paliativo para o vazio que se sente. Conhecendo o caminho rápido para o prazer, desenvolve-se um ciclo vicioso de falta-busca-prazer instantâneo, que cada vez mais movimenta o ser humano para fora de si, alimentando um processo de desapropriação (a pessoa vai perdendo-se de si mesma) – “consumo, logo, existo”.
A velocidade com que novas coisas chegam ao mercado, a moda, as tendências e a publicidade como indutora do consumo são fortes influenciadores desse processo e contribuem para o que podemos chamar de “Era fast-food”, a qual estamos vivendo – consome-se muito, nutre-se quase nada. A falsa sensação de preenchimento que se tem a cada aquisição, deixa de ser uma solução, para ser um problema.
Hoje, a superficialidade tem sido protagonista das nossas relações e, quando nos referimos a relações, estamos atentando para qualquer interação que temos com tudo o que existe. Vivemos tempos de interesses rasos, prazeres imediatos, onde se esquiva do que exige movimento, se acomoda à inércia, coexistindo dentro da própria existência, na tentativa de ser aquilo que desejam que o seja.
Nesse tempo, o valor se perdeu, não se reconhece o próprio eu, se sente vazio e se preenche com aquilo que [pré]ocupa, se engana na sensação de que espaço cheio é contrário de solidão. Ao passo que nos damos por satisfeitos com aquilo que rapidamente nos sacia, minamos cada vez mais a nossa coragem de olhar para o nosso interior e nos movimentamos cada vez menos para o que legitimamente necessitamos.
Dessa forma, é importante reconhecer que o movimento para a aquisição, quando não legitima nossa real necessidade, nos tira algo de que realmente precisamos. Vale, então, a reflexão e o alerta para que, o que nos falta, não está em qualquer coisa, lugar ou pessoa, mas sim dentro de nós mesmos e na capacidade de identificar, acolher e cuidar para que sigamos inteiros e plenos em nossa existência.
Psicóloga, Taynã Lizárraga Carvalho, Clínica Diálogo
CRP : 01/15010.