As incertezas políticas e sociais do pós-impeachment da ex-presidente Dilma (PT), somadas a um contexto de recessão e déficits macroeconômicos, carregaram em seu bojo, entre tantas apostas, um cenário de (re) ascensão de uma direita tipicamente identificada com um autoritarismo tacanho.
Entretanto, o que temos acompanhado nos discursos de importantes atores políticos e de comentaristas é uma clivagem rumo a uma pretensa racionalidade, que reúne o desenvolvimento social com a responsabilidade fiscal. Essa proposta tem-se materializado em uma agenda de reformas estruturais, conduzida por Michel Temer (MDB).
Desde os primórdios do documento “Uma ponte para o futuro”, Temer tem constituído uma retomada do crescimento a partir da reconquista da confiança do dito “mercado”, e assim formando uma lógica de transições em termos de políticas públicas.
Essas medidas trouxeram sinais de recuperação econômica. A taxa de desemprego recuou quase 2% entre 2016/17. E a previsão otimista é de que sejam abertos novos 740 mil postos de empregos formais em 2018. O Produto Interno Bruto (PIB) cresceria de 2,2% a 3,5%.
Tanto o esforço orçamentário do governo para aprovar suas agendas, além das tentativas dos partícipes desse processo de capitalizarem sua parcela de responsabilidade no tímido avanço da economia brasileira, não podem ser ignorados para um contexto eleitoral.
Um exemplo é o “capitão” do navio das reformas do governo, o ministro da Fazenda Henrique Meireles (PSD-GO), que tenta repetir o cenário de 1994, no qual o então ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso (PSDB), a partir de uma série de medidas, incluindo a implantação do Plano Real, se cacifou para se eleger presidente.
Outro que entra no páreo é o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), conhecido por uma plataforma mais conservadora, mas que tem dado entrevistas nas quais se diz liberal e o principal defensor e articulador das reformas na Câmara.
Quem demonstra grandes possibilidades de um alcance nacional é Geraldo Alckmin. O governador de São Paulo ainda precisa passar pelas prévias do PSDB, reivindicadas pelo prefeito de Manaus (AM), Arthur Virgílio. No entanto, não se pode duvidar da astúcia política de Alckmin que costuma atrair apoios de outros espectros ideológicos para o seu campo, como fez com o PSB paulista.
É cedo para afirmar categoricamente se haverá uma concentração e/ou dispersão de candidaturas no centro político. No entanto, as atuais mudanças econômicas, a força adquirida pelos partidos de centro nas eleições municipais de 2016, e a força da estrutura partidária, indicam um cenário de “vento em popa” para as candidaturas de centro, que encontram refúgio na “brisa” da retomada do crescimento econômico e a busca de alianças que alicercem e garantam sua chegada à terra firme em outubro.
(*) Professor de Ciência Política, especialista em Políticas Públicas e mestrando em Ciência Política pela UFG.