Paco Britto é o sujeito certo no lugar certo. Aos 54 anos, o vice-governador eleito, apesar de ser filiado ao nanico Avante, tem trânsito fácil e diálogo aberto com todos os partidos. Por essas características, teve papel fundamental na formação da coligação em torno da candidatura de Ibaneis Rocha (MDB). Eleito, foi nomeado coordenador da transição. Passam por ele todas as tratativas de escolha de futuros colaboradores da próxima gestão do Palácio do Buriti. Quinta-feira (22) à noite, após uma estafante jornada de reuniões, Paco mantinha o bom humor e o sorriso aberto para a entrevista ao Brasília Capital. Sem fugir das perguntas, mas sem se estender nas respostas, admite que a área mais sensível do governo é a Saúde. Entretanto, garante que são muito boas as perspectivas de melhoria da qualidade de vida da população sob o comando de Ibaneis. Diz que o governo manterá programas como o Saúde em Casa e resgatará iniciativas dos ex-governadores Cristovam Buarque, Joaquim Roriz e José Roberto Arruda. E garante que irá cumprir promessas de campanha, como o reajuste para 32 categorias de servidores, apesar de confirmar que o GDF tem um rombo de R$ 5 bilhões.
Um mês após as eleições e a quarenta dias de assumir, o governo Ibaneis já tem uma cara? – A cara do governo vai ser uma cara de realizações e de serviços prestados para a comunidade.
As decisões do governador Ibaneis caminham na contramão do que vem sendo feito pelo presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL), que está reduzindo o número de ministérios. No DF estão sendo criadas novas secretarias… – O organograma do governo não está fechado. Pode vir a ter mais secretarias ou subsecretarias. Por exemplo, a Secretaria de Cidades virou uma coordenadoria. Então, é só aparência, porque nós ainda não fechamos como ficarão as secretarias. O governador já deixou claro que não é contra o aumento das Pastas, desde que não aumente a despesa e respeite o corte do funcionalismo que ele quer fazer, que será em torno de 30% dos cargos existentes.
Vocês estão trazendo pessoas que fazem parte do governo de Michel Temer e que não se elegeram em outros estados, como o Sarney Filho para a Secretaria do Meio Ambiente. O GDF vai virar reduto para aliados que não conseguiram de outra forma se manter no poder? – O governo Ibaneis não vê desta maneira. O deputado Sarney Filho é uma referência na área. O advogado Gustavo Rocha (secretário de Justiça), que também veio do governo Temer, é uma referência. Nós não estamos amparando ninguém. Um exemplo é que anunciamos um nome do PDT para a Secretaria da Juventude. E ele não estava com a gente durante a campanha.
A nomeação dele trará junto o apoio da bancada do partido na Câmara Legislativa? – Não. Eles têm um deputado que já está conversado (a referência é ao distrital Cláudio Abrantes, uma vez que Reginaldo Veras declara-se independente). O George Michel (presidente do partido no DF) poderia falar sobre o outro deputado (Reginaldo Veras), ou o próprio. Portanto, o PDT foi oposição e agora está alinhado com a gente.
A Saúde é a área mais delicada para chegar a um ponto de conciliação? – Sem dúvida nenhuma. É a mais complicada e problemática. Tenho visto isso diariamente nos hospitais e posso garantir: é a mais sensível.
Sensível para montar a equipe ou para gerir? – Para gerir também. Nós temos que voltar com a Saúde da Família, o Saúde em Casa…
Todos esses programas serão retomados? – Serão. Nós vamos aproveitar todos os projetos de Estado. O que foi bom vai voltar. Nós seremos governo a partir de 1º de janeiro. Vamos pegar tudo de bom de outros governos. Não vamos parar um programa porque foi de governo X ou Y. Traremos de volta o Mãe Crecheira, a Carreta da Mulher, a Carreta do Homem, Pão e Leite. Tudo isso foi de outros governos. Outro exemplo: educação no trânsito. Brasília já foi referência e a iniciativa foi de um governo do PT. Mas vamos pegar programas bons do Roriz, do Arruda e aproveitar de novo.
O Instituto Hospital de Base é um bom programa? – O Ibaneis deu uma entrevista dizendo que vai ver os modelos que estão aí. Vai se aprofundar no tema. Se for bom, ele provavelmente irá aperfeiçoar o Instituto. Tem suas falhas? Sim. Mas tem os méritos do Instituto? Tem.
O próprio Jofran Frejat fala que é difícil conciliar os concursados com os celetistas contratados via Instituto… – Só que os celetistas você tem agilidade na contratação e na demissão…
Então há chances de se manter o Instituto? – Há chance de fazer uma coisa em conjunto. Mesclar os dois modelos.
O senador Cristovam Buarque disse que gostaria de criar um projeto-piloto de educação ideal no Recanto das Emas. O governo vai encampar essa ideia? – Não vejo dificuldade. Mas tem que ser apresentado ao secretário de Educação, que é uma pessoa competente e qualificada e que tem suas próprias ideias. Se for algo bom, por que não? Programa de escola integral tem que ter. Mas temos que submeter ao secretário.
Brasília tem um histórico de vices que racham com os governadores. Foi assim com o Benedito Domingos e o Joaquim Roriz e, agora, o Renato Santana com o Rodrigo Rollemberg. Qual que é a sua afinação com o Ibaneis? – Todos perguntam isso. Nós estamos afinados. Eu sei o tamanho que é o cargo de vice e sei o que é ser vice-governador. Eu sou vice. Aí você vai me perguntar: Paco, o que você vai fazer depois da transição? E eu lhe respondo: voltar a ser vice. Vou tratar do que a Lei Orgânica me determina e fazer o que o governador me determinar.
O senhor tem uma participação importante na formação da coligação, graças ao seu bom trânsito com vários partidos. Essa articulação política será sua principal função no governo? – Minha contribuição é ajudar a formar o governo inteiro. Essa é a verdade. Trazendo outros partidos que queiram contribuir para Brasília e não projetos pessoais. Tampouco deputados com projetos pessoais. Nós estamos de braços abertos para todos os partidos políticos da nossa base, inclusive aqueles que não elegeram deputados. Outro dia fizemos um almoço com todos os deputados distritais, inclusive com um parlamentar do PT, com uma contribuição “vigilante”. Eu até brinquei: Chico, faz uma oposição construtiva, é melhor. É saudável um país em que se possa fazer oposição.
O governador Rollemberg pregou, durante a campanha, ter feito um governo honesto, que colocou Brasília nos trilhos, que as contas estão em dia. Os dados que estão chegando para o governo de transição confirmam esse discurso? – Sobre honestidade eu deixo para a Justiça responder. Vamos fazer um governo olhando pra frente.
Mas as contas do GDF estão corretas? – Não. As contas não estão corretas.
Existe rombo de novo? – Existe sim.
Já está mensurado? – Não, ainda não está mensurado. O secretário de Fazenda André Clemente está calculando para saber o rombo exato. Mas vai ser bem grande.
BC – Aquele chute inicial de R$ 5 bilhões está valendo? – Está valendo. É em torno de R$ 5 bilhões.
Então, se o Rollemberg recebeu o governo com dívida de R$, 6,5 bi e disse ter zerado a conta e agora vocês dizem que existe um rombo de R$ 5 bi, onde está esse dinheiro? – Aí tem que perguntar pra ele. Nós requisitamos estes números dentro da Lei de Transição e estão chegando em partes.
Onde que está o furo? – Na gestão.
Como está a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF)? – No limite.
Qual o percentual está comprometido com a folha de pessoal? – Não tenho esse número aqui e agora.
Diante de tudo que o senhor teve conhecimento neste início de transição, após todos os estudos e a preparação da equipe, qual é a expectativa para o início do governo Ibaneis? Vai melhorar realmente a vida das pessoas? – Vai melhorar. Nós temos segurança absoluta de que vai melhorar.
Como vai melhorar, por exemplo, o transporte e a mobilidade? – Com mais ônibus. Vamos fazer integração desde o pedestre até chegar nos ônibus e no metrô. Tem cidades onde a pessoa anda até 5 Km do ponto de ônibus até em casa. Queremos fazer essa interligação com vans, com micro-ônibus. Vamos fazer isso mantendo a integração de tarifa.
Sem reajuste? – Sem reajuste e com serviço de qualidade. Assim conseguiremos desobstruir o trânsito. No mundo inteiro as pessoas utilizam o serviço público.
Como vai melhorar na área da Habitação? – O governador Ibaneis conseguiu a liberação de mais 12 mil casas populares na Caixa Econômica Federal num projeto, no Paranoá.
Como será o combate às invasões? – Fiscalização total! Com tudo que há de mais moderno, como drones.
A Agefis continua? – Tem que continuar, mas sendo uma Agefis do bem.
O anúncio do fim da Agefis motivou os grileiros… – Eles podem estar animados, mas eu te mostro mensagens (aponta para o celular) ao secretário atual pedindo essa fiscalização. Eu tenho pedido para controlar isso. Porque se não for feito, é omissão do Estado. Por que o Estado pode me cobrar o IPTU utilizando-se de drones e não pode fazer a fiscalização com drone? Ou não quer fazer? Atrás da Estrutural, no assentamento Santa Luzia, tem uma invasão com sete mil casas a dez quilômetros do centro do Poder, a poucos metros de uma região riquíssima, que é a Cidade do Automóvel. Como ninguém viu isso? Só vê depois de construído? Fato consumado? Isso chama-se omissão do Estado. Eu tenho pedido ao Sérgio Sampaio (chefe da Casa Civil) que faça essa fiscalização. Nós não vamos deixar ter invasões.
O governador se elegeu prometendo reajuste para 32 categorias profissionais. Vai dar para pagar isso? – Vai.
De onde virá o dinheiro? – Vamos aumentar a eficiência. Vamos trazer empresas para o DF que vão gerar empregos e riquezas.
Então os compromisso com o setor produtivo e com os trabalhadores serão cumpridos? – Com os trabalhadores serão cumpridos. Será um pagamento escalonado. Senão der para pagar à vista, será escalonado. Todas as promessas de campanha viraram metas do governo Ibaneis.