Um homem de 48 anos, internado desde sexta-feira (13) num hospital particular de Brasília, conta em detalhes os sintomas do novo Coronavírus, o Covid-19. Ele colheu material para análise, que está sendo feita em São Paulo, e o resultado será conhecido nas próximas 48 horas. Com autorização do paciente, o Brasília Capital publica trechos do relato que ele enviou para alguns amigos e familiares.
“Prezados parentes e amigos,
“Venho atualizá-los sobre o meu atual estado de saúde, cujo quadro é de suspeita de Ccoronavírus. Na sexta-feira à tarde (13/3), dei entrada no pronto socorro por causa de uma tosse persistente e esporádica, que teve início no domingo da semana passada. Pensei que se tratava de princípio de gripe, embora não apresentasse a coriza e o mal estar habitual de uma gripe; apenas um pequeno início de febre, que logo desapareceu com o uso de Dipirona.
“Na madrugada de quinta-feira, fui acometido de uma crise de tosse severa, com uma moderada dificuldade de respirar. Dificuldade essa que não tinha acontecido nos outros dias, mas apenas o desconforto da tosse; colocando-me assim em estado de preocupação. Por essa razão, decidi vir depois do almoço para o pronto socorro.
“A médica pediu os exames de sangue de praxe, junto com uma tomografia de pulmão, cujo laudo apontou bronquite com uma pequena disfunção dos rim em decorrência da infeção dos brônquios, além de uma elevada taxa de creatina. Ela sugeriu a internação, muito mais por causa dos rins do que da inflamação dos brônquios, porque nem índice de pneumonia apresentava.
“Depois de fazer inalação no ambulatório e receber algumas medicações na veia, levaram-me para o apartamento às 19h, já sentindo-me bem, embora cansado, mas com todas os sinais vitais excelentes.
“Na madrugada de sexta para sábado, a crise de tosse veio acompanhada de uma desesperadora DIFICULDADE DE RESPIRAR, que só melhorava depois da crise. Ao meio dia do sábado, quando estava me enxugando do banho, tive uma crise de tosse com uma severa falta de ar; depois de três minutos de tosse sozinho no apartamento, achando que ia morrer, chamei a emergência, que levou mais três minutos para chegar ao quarto, onde eu já me encontrava sentado na cama bem restabelecido.
“Ao medirem os sinais vitais, esses indicaram índices excelentes, inclusive o mais importante: A saturação de oxigênio no grau 94, deixando a equipe confusa sobre o relato da dificuldade de respirar durante a crise de tosse. O médico me auscultou e não viu nenhuma anormalidade nos pulmões, apenas os chiados normais da bronquite, que estavam regredindo.
“Ao longo da tarde de sábado, o quadro se agravava. Ao menor movimento da cama, desencadeava uma crise de tosse aguda, acompanhada da dificuldade de respiração, que beirava ao óbito.
“Depois de tanto vai e vem da equipe de enfermagem com aplicação de tantos remédios, coincidiu que a médica de plantão presenciou uma dessas crises que a fez tomar a decisão de me encaminhar para a UTI. E sua preocupação se agravou quando, ao medir minha taxa de saturação de oxigênio, a qual havia despencado para 80, sendo que o normal é de 96. Ou seja, se ela não estivesse por ali, talvez eu não estivesse por aqui contando esse história. Depois disso ela decidiu de imediato me levar para a UTI. Chegando lá, o chefe da UTI decidiu me encaminhar para a ala especial de isolados com suspeita de Coronavírus. E é aqui que me encontro desde as 18h30 de sábado.
Depois de algumas horas, a dificuldade de respiração ainda persistia, quando a tosse vinha, mas foi melhorando graças à alteração da medicação, associada aos efeitos dos antibióticos do dia anterior, que já estava completando seu ciclo de efeito. Domingo, amanheci bem melhor, embora tossindo bastante em alguns momentos de pequeno esforço, mas com a respiração restabelecida. Ou seja, eu posso tossir horrores, mas consigo respirar normalmente, sem dor nos pulmões e nem dor de cabeça (embora em nenhuma das crises anteriores tivesse tido esses últimos sintomas de dores).
O resultado dos exames deve sair hoje (16) ou amanhã, porque o protocolo do hospital é o de encaminhar para São Paulo. Na hipótese de positivo, o protocolo do hospital é permanecer internado por mais dias, ou quiçá semanas. Caso contrário, basta me restabelecer dos problemas respiratórios e estarei liberado.
Se Deus quiser, e pelo otimismo dos médicos e de toda a equipe, acreditamos que se trata de uma fatalidade respiratória. Posso garantir que estou me sentido bem melhor, porque o mais preocupante já passou: A dificuldade de respirar. No mais é só aguardar a cura dos brônquios, que está desencadeando essa tosse insuportável, e o resultado dos exames.
Um abraço a todos”.