Panelas grandes, pequenas ou médias;
De pedra, de barro, de alumínio ou de ferro;
Novas ou velhas, não importa,
Realçam o incômodo entrevero.
Panelas levadas ao fogo,
Que atiçam a fervura da água
E refogam os grãos na salmoura
Ativando ávidos olfatos.
Benditas panelas rústicas ou nobres,
Que adornam palácios ou casebres,
Emoldurando paredes antagônicas,
De trágicos cômodos disformes.
Panelas cheias de ganância
Transbordam a opulência da gula
Enquanto panelas vazias
Denunciam os disparates da vida.
Panelas que exalam vapor
Quando a pressão aumenta
Por causa da maldita exclusão
Que amplia a tensão e a tormenta.
Panelas que se agitam ao vento
Emitem sinais de alerta
Como um grito de resistência
Quando o silêncio aperta
Panelas agudas ou graves
Recortam o vazio da noite
Ao vibrarem diante de açoites
Que os cerrados punhos deflagram
Panelas que orquestram sonidos
Que despertam o sono da alma
Fazendo vibrar corações altivos
Que não se conformam com o sufocante martírio.
Ungidas panelas que tinem
Acima dos decibéis imbecis
Que pensam que a lâmina da baioneta
É mais aguda do que os acordes hostis.
Panelas cheias de espanto
Diante dos discursos vazios
Daqueles que zombam do pranto
Forjando deboches sombrios.
Ouve-se das massas o estardalhaço
Ecoando além das vidraças opacas:
“Independência ou morte de fato”
É a voz que vem do panelaço!