Na saúde, sim. Na doença, não. Infelizmente, a atenção à saúde da mulher no Distrito Federal ainda está bem longe de ser a ideal. Em outubro, mês de combate ao câncer de mama, é comum que a gestão do DF ilumine o palácio do Buriti com a cor rosa – em referência à campanha.
No entanto, mais do que simplesmente lembrar sobre a necessidade de prevenção, é preciso oferecer condições, lá na ponta, começando pelas Unidades Básicas de Saúde (UBSs), para que isso aconteça.
Desde que foram promovidas as mudanças na Atenção Primária, em 2017, com o programa Converte APS, a população enfrenta a falta de médicos especialistas nas UBSs.
No que diz respeito à saúde da mulher, os ginecologistas deveriam estar nesses locais, prevenindo e tratando doenças. No entanto, sem este especialista para o acompanhamento da saúde das mulheres, o outubro rosa, no DF, é um choque de realidade.
Desde o acompanhamento preventivo até o pré-natal de gestantes, a saúde pública do DF é um verdadeiro entrave. Nas UBSs, como disse, faltam médicos especialistas e agentes comunitários de saúde.
E, quando finalmente se o acesso a médicos (de família) acontece, faltam testes e exames, dos mais básicos, como curva glicêmica e urocultura para grávidas, a tomografias e mamografias.
No nível secundário (UPAs e hospitais regionais), há déficit de médicos, enfermeiros e outros profissionais. No nível terciário (casos mais complexos), até agosto havia 40 mil pessoas na fila à espera de cirurgia no DF.
Outro lamentável episódio no cenário do atendimento à saúde da mulher é o IGES-DF: o Hospital de Base, hoje gerido pelo instituto, que sempre foi referência em Oncologia, cancelou diversos tratamentos em curso por falta de medicamentos e insumos.
A situação chegou a tal ponto que, em julho, o Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT) e a Defensoria Pública do DF pediram na Justiça a retomada imediata desses procedimentos.
Saúde não se faz só com campanhas
Há muito a se fazer para, efetivamente, cuidarmos da saúde das mulheres. Para ter diagnóstico precoce do câncer de mama, por exemplo, é preciso ter acesso à rede pública, em especial levando-se em conta que aproximadamente 70% da população do DF depende exclusivamente do Sistema Único de Saúde (SUS) – índice acima da média das capitais brasileiras.
A mamografia, segundo o Ministério da Saúde, é um exame que, a partir dos 50 anos, deve ser realizado de dois em dois anos. Por ano, segundo dados de especialistas na área, são esperados, no DF, ao menos 700 novos casos de câncer de mama.
E esses pacientes precisam de tratamento adequado, incluindo os medicamentos necessários. Nesta rede de atenção, quando há qualquer falha na gestão, seja por falta de investimentos ou problemas em contratos, a gente tem, sim, mortes evitáveis.
Não adianta deixar este ou aquele prédio na cor rosa sem dar condições para que a prevenção ao câncer de mama, e outras doenças, seja uma realidade. A saúde (a de verdade) não se faz com campanhas.
E nossa camisa, a do SindMédico-DF, é justamente a de transformar a realidade: o nosso outubro é rosa choque porque é um alerta sobre o que ocorre de verdade.
Como médico, ginecologista e obstetra, não posso me furtar de dizer aqui: a verdadeira prevenção se faz com políticas públicas de saúde. A prevenção de verdade ocorre quando uma mulher procura uma Unidade de Saúde e é recebida por quem pode examiná-la, diagnosticá-la e indicar o melhor tratamento.
Este é o Outubro Rosa que as mulheres precisam.
**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasília Capital