A elevada taxa de desemprego e o aumento do número de desalentados, aqueles que, depois de muito tempo sem encontrar vagas de trabalho, até desistem, é cada vez mais preocupante no Brasil e mais ainda no Distrito Federal. São quase 13 milhões os desempregados no País e 5 milhões os desalentados. A taxa de desemprego supera 12%. No DF, segundo a última Pesquisa de Emprego e Desemprego divulgada pela Codeplan, o desemprego geral chegou a 18,3%. Ou seja, 308 mil, de 2,5 milhões de pessoas em idade produtiva residentes no DF estavam desempregadas há um mês ou mais. Quem são os mais afetados pelo desemprego? A pesquisa indica mulheres, negros e jovens sem experiência de trabalho. Pessoas acima dos 50 anos nem foram consideradas.
E não se tem notícia de políticas públicas para incentivo de abertura de vagas de trabalho ou para recolocar essa massa de pessoas no mercado de trabalho. A saída é o empreendedorismo? Chegamos ao final de 2018 com mais de 5 milhões de micro e pequenas empresas em situação de inadimplência no País, porque também não há política adequada para preparar quem vai montar seu negócio nem de desburocratização para abertura e manutenção das empresas.
E isso ocorre em um processo de transformação do mundo e do mercado de trabalho ditado pelas novas tecnologias de informação e comunicação, que guiam a 4ª Revolução Industrial. Nesse contexto, o Fórum Econômico Mundial (WEF) estima que, até 2025, máquinas e algoritmos irão executar mais da metade das tarefas hoje feitas por seres humanos, eliminando 75 milhões de vagas de empregos em todo o mundo.
Outros 133 milhões de novos postos serão criados, mas em novas áreas que dependem de formação às quais desempregados, pessoas de baixa renda ou mais velhas e até profissionais de carreiras “em extinção” terão dificuldade de acesso por falta de formação – profissionais como jornalistas, pilotos de avião e médicos anestesistas estão na linha de tiro, pois suas atividades são impactadas pelas inovações tecnológicas da robótica, da inteligência artificial e das redes neurais cibernéticas.
O problema é individual, do mercado ou do governo? É de todos. Tem aspectos individuais e coletivos. Ao mesmo tempo em que deixam de aumentar a arrecadação de impostos na economia enfraquecida pela diminuição da capacidade de consumo desses desempregados e suas famílias, os governos são obrigados a investir mais em políticas para mitigar danos que se mostram, como aumento da incidência de doenças, da violência urbana e da dependência do cidadão em relação ao Estado.
O ex-economista chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI) Raghuram Rajan aponta no livro The Third Pillar: How Markets and the State Leave the Community Behind (O Terceiro Pilar: Como os Mercados e o Estado Deixam a Comunidade Para Trás, em tradução livre) que o próprio capitalismo está em risco, porque quando os governos ignoram a desigualdade social em suas políticas econômicas “as massas se rebelam contra o capitalismo”.
Rajan pode até estar errado, mas é uma voz a ser ouvida. Foi ele quem primeiro alertou a comunidade internacional, em 2005, para o perigo de um colapso em função de práticas do mercado financeiro naquela época. A crise aconteceu como ele previu, em 2008, e até hoje sofremos os efeitos dela. Longe de ser um socialista, o que o economista indiano radicado nos EUA propõe é simplesmente que governos e mercados garantam às diversas camadas da população a possibilidade de acesso às oportunidades de formação acadêmica e profissional para concorrer às vagas em um mercado de trabalho em mutação e cada vez mais exigente.
E as políticas pública par garantirem o bem-estar, o equilíbrio e o desenvolvimento social e econômico é que estamos esperando dos novos governantes que elegemos. Que ponham em prática, agora, os projetos para alcançar esses objetivos.