Enquanto o GDF anuncia R$ 1 bilhão em obras para Taguatinga, moradores se reúnem para propor pequenas adaptações que melhorem a qualidade de vida da população. Nesta entrevista ao Brasília Capital, três integrantes da Rede Cidadã de Taguatinga (Recita) falam de suas ideias para tornar a cidade um lugar mais agradável. Confira o que têm a dizer a mestre em urbanismo sustentável Amanda Coelho Guimarães, o médico, Júlio Carneiro e o presidente da Recita, Felipe Resende.
Brasília Capital – Qual é a essência da proposta da Recita?
Amanda – É cuidar da comunidade. Obras são necessárias e as desejamos. Mas a preocupação é com o capital social. Ver as pessoas cada vez mais distantes, perdendo o senso de comunidade, é dolorido.
Brasília Capital – Qual é a principal conquista da Recita para a população de Taguatinga?
Felipe – Foi abrir a participação social. Nós pensamos muito em como se aplica o dinheiro público. Então resolvemos estudar e vimos que existem formas de participar. São vários conselhos (de saúde, de segurança, de meio ambiente). Fomentamos a participação da comunidade neles, para que a forma do fazer seja mais transparente. Por exemplo, a forma como as pessoas se relacionam com a obra do túnel. Por mais que haja milhões investidos, esse relacionamento independe do dinheiro. Então, a Recita tem tentado entender a percepção que as pessoas têm daquilo, por meio da participação delas no processo.
Brasília Capital – Como tem sido esse contato com os órgãos públicos?
Dr. Júlio – Temos demonstrado sempre a gratidão e investido no clima de confiança. Agradecemos quando tem motivos. Porém, não abrimos mão da nossa participação. E de fazer o agente público entender que ele precisa se inteirar de como fazer as políticas públicas. Que esse espírito, que parece de reivindicação, seja humanizador. Moramos e respiramos o ar da mesma cidade.
Brasília Capital – Existem demandas específicas para cada setor na cidade?
Amanda – O problema da mobilidade é geral. Mas não tratamos apenas o ir e vir de carro e das pessoas. Mas, para cada setor da cidade nós vemos demandas específicas. Quem mora no Centro tem cobrado o recapeamento das ruas adjacentes, por exemplo.
Brasília Capital – Que sugestões vocês dariam à Administração Regional para melhorar a programação das obras em Taguatinga?
Felipe – Nós achamos importante que essa discussão faça parte de um processo. Por exemplo: na revisão do Plano Diretor de Ordenamento Territorial (PDOT), que possamos incluir, a cada dez anos, discussões sobre o comércio, a indústria, o lazer, o meio ambiente e a infraestrutura. As pessoas têm que falar.
Amanda – Esse foi um propósito que a Recita sempre teve. Nossa intenção não é pegar todas as demandas para resolver, mas ensinar as pessoas a fomentar o capital social. Temos que demandar e preservar.
Brasília Capital – Qual tem sido a receptividade da comunidade a essa forma de engajamento proposta pela Recita?
Dr. Júlio – As pessoas têm respondido positivamente. Muitos jovens têm participado. E eles são fundamentais. Esta foi uma surpresa positiva. Conseguimos fazer a intergeracionalidade com simplicidade.
Brasília Capital – Quais avanços práticos vocês já obtiveram para a melhoria da qualidade de vida da cidade com baixo investimento? –
Amanda – A população de Taguatinga está envelhecendo. A primeira coisa que tem que se pensar são as calçadas, a redução da velocidade. Tem que nivelar as calçadas. Incluir pessoas deficientes com faixa tátil no chão e sinal sonoro.
Felipe – No começo do ano, fizemos uma vistoria cidadã no centro de Taguatinga com o Ministério Público, a Rede Urbanidade e outras ONGs. Apontamos alguns ajustes na obra do Bollevard para melhorar a acessibilidade e o trânsito.
Brasília Capital – Existe alguma proposta de implantação de ciclofaixas em Taguatinga, a exemplo das existentes em Águas Claras?
Dr. Júlio – Nós não fizemos esse estudo. Mas é uma coisa interessante para os técnicos do Poder Público avaliarem. Nós não somos produtivos sem o Estado. Por mais que a sociedade queira, temos de trabalhar dialogando com o Estado.
Amanda – Quando o Felipe mencionou a vistoria, significa que as nossas sugestões precisam ser acatadas pelos órgãos do governo. Portanto, no caso de uma ciclofaixa, só com o poder público.
Brasília Capital – O administrador, Bispo Renato Andrade, informou que o GDF vai investir R$ 1 bilhão em Taguatinga em oito anos. Quantos por cento desse montante a Recita destinaria à humanização da cidade?
Dr. Júlio – A organização da cidade não precisa de muito. Nessa parte da humanização, o mais importante é conversar, dialogar. E isso não custa nada.
Amanda – Tem que ter educação. E a educação a que me refiro são campanhas educativas para motoristas e para pedestre, para a questão do lixo no lixo, e nos horários previstos pelo SLU, que é outro órgão super aberto ao diálogo. Então, no meu ponto de vista, deveria-se usar um percentual deste investimento em campanhas educativas usando todos os meios de comunicação possíveis.