Brasiliense sofre com excesso de carros, greve de metroviários e obras inacabadas para a Copa do Mundo
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Ray Cunha
A 50 dias do primeiro jogo da Copa do Mundo em Brasília, em 15 de junho, quando a Suíça enfrentará o Equador, o Distrito Federal ainda é um canteiro de obras, principalmente nas vias públicas. Isto tem gerado um caos no trânsito e vem infernizando os brasilienses.
O Expresso DF, que ligará o Gama e Santa Maria ao Plano Piloto, e que reduzirá o tempo dessa viagem de 90 para 40 minutos, utilizando ônibus articulados com capacidade para 160 passageiros e biarticulados nos horários de pico e com capacidade de 200 passageiros, ao longo dos 43 quilômetros de extensão do corredor exclusivo, ainda não está funcionando comercialmente.
Em outro corredor ainda mais densamente povoado, compreendendo as cidades de Ceilândia, Taguatinga, Samambaia, Águas Claras e Guará, uma das alternativas é o metrô. Mas, desde o dia 4 de abril, os funcionários estão em greve, por falta de acordo com o governo. Eles reivindicam reajuste salarial e redução da jornada de trabalho.
Até a Copa do Mundo, o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), quando muito, será um buraco num dos pontos mais nevrálgicos do Plano Piloto, o fim da W3 Sul. Em recente entrevista ao R7, a arquiteta, urbanista e professora da Faculdade de Arquitetura da Universidade de Brasília (UnB), Sylvia Ficher, afirma que o transporte público de Brasília é mal planejado e mal operado.
Estruturado inicialmente para ser um meio de transporte expresso do Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek à W3 Sul e Norte, o VLT remonta a 2007. E a Linha Verde, que ligaria Ceilândia e Taguatinga à Rodoviária do Plano Piloto, utilizando a EPTG, ainda é apenas uma promessa, assim como a integração entre ônibus e metrô.
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Planejada para carros e sem vias
O traçado de Brasília, seu engessamento e a falta de calçadas complicam ainda mais a situação, como se a cidade fosse planejada para carros, embora carente de vias e de vagas de estacionamento. Assim, a Capital chega aos 54 anos com sérios problemas de mobilidade urbana.
A urbanista Sylvia Ficher acha que o grande problema da região metropolitana do DF não é excesso de carros, mas falta de vias. Por exemplo: para quem sai da Asa Sul com destino a Taguatinga só há um caminho, a EPTG (Estrada Parque Taguatinga). Para a professora da UnB, as poucas vias arteriais de Brasília vivem congestionadas, já que não há outra opção de escoamento. Assim, o transporte público, ruim, disputa o espaço viário com automóveis e motos.
O especialista em políticas públicas de transportes e pesquisador da UnB, Artur Moraes, também ouvido pelo R7, observa que quase qualquer acidente para completamente o trânsito de Brasília, gerando o efeito dominó. Segundo ele, a ampliação ou inversão de sentido como medida para melhorar o trânsito é cosmética, não resolve o problema do engarrafamento.
A solução que parece mais racional é abrir novas ruas. Mas como abrir novas ruas no Plano Piloto, tombado como patrimônio cultural da Humanidade?
Pedestres e ciclistas também penam
Quanto aos pedestres, que quase não contam com calçadas e semáforos, a urbanista Sylvia Ficher é radical: defende a instalação de semáforos para pedestres no Eixo Rodoviário, já que as passagens subterrâneas são perigosas, fedorentas e escuras, porque sempre estiveram abandonadas.
Já os ciclistas, engana-se quem pensar que os quilômetros de ciclovias construídas pelo governador Agnelo Queiroz vão resolver a questão. As ciclovias, construídas em zigue-zague, indicam que a bicicleta é vista em Brasília como veículo de passeio e não como meio de transporte.
O pesquisador Artur Moraes questiona o privilégio dos rodoviários e o descaso com os ciclistas; enquanto aqueles dispõem de vias retas, os ciclistas só contam com vias curvas, interrompidas e sem sinalização. (Com Agências)