Os estoques de anestésicos usados nas cirurgias e na intubação de pacientes com problemas respiratórios causados pela covid-19 estão muito baixos em todo o País e no Distrito Federal. O Brasília Capital apurou que o problema se agrava na rede particular, em que a reserva desses medicamentos está quase zerada.
Vários médicos e diretores de unidades de saúde ouvidos pela reportagem, que preferem não se identificar, acreditam que, além do crescimento da procura, em virtude da pandemia do novo coronavírus, está havendo especulação dos fabricantes e, principalmente, das empresas que revendem os fármacos – os atravessadores.
“Temos recebido propostas para entrega dos medicamentos com preços até quatro ou cinco vezes acima do valor praticado antes da pandemia”, diz o chefe da área de suprimento de um grande hospital privado do DF. Mesmo quando os hospitais se dispõem a pagar, segundo ele, os atravessadores dificultam e atrasam as entregas.
O chefe da UTI de outro hospital particular lamenta o que tem assistido nos últimos dias. “Há uma semana, tínhamos apenas seis doses de anestésicos em nossa farmácia e mais de vinte pacientes em nossos leitos de terapia intensiva. Recebemos ligações de outros hospitais pedindo ajuda porque não tinham mais a medicação para manter os internados sedados”, afirma.
O consenso entre os profissionais é o de que esteja havendo especulação mercadológica, numa cruel adaptação da lei da oferta e da procura em plena pandemia. A preferência, no momento, é vender para o governo, que está liberado pelos órgãos de controle a comprar sem licitação. “Isso dá margem a muitas negociatas”, desconfia um infectologista.
Levantamento do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) aponta que em 22 unidades da Federação o estoque de pelo menos um desses medicamentos está zerado. A alegação das indústrias é a de que não têm conseguido atender aos pedidos, mesmo após as licitações, devido ao crescimento da procura.
Especialistas acreditam que a principal alternativa seria o Ministério da Saúde abrir uma ata de registro de preços e centralizar a compra dessas medicações para distribuir aos estados e municípios. “As tratativas individuais, ou mesmo das Secretarias de Saúde, deixam os compradores em situação de fragilidade”, afirma o operador da área de compras e suprimento entrevistado pelo Brasília Capital.
O “leilão” dos laboratórios e atravessadores não prejudica apenas os doentes de covid-19. O chefe de um Pronto-Socorro teme não poder atender a uma eventual emergência. “Imagine se ocorre um acidente grave envolvendo várias vítimas que necessitem de cirurgias de emergência? Vamos ter de operar essas pessoas sem anestesia?”, questiona.