Após cumprir 60% de seu mandato, fica difícil dizer em que área o governo Bolsonaro tem sido mais desastroso. A gestão sanitária, além de catastrófica, é criminosa, com quase 400 mil mortos em um ano; a gestão política é um desastre completo, e a gestão ambiental promove a devastação da Amazônia. Quanto à gestão econômica, a política ultraliberal associada ao ritmo extremamente lento da vacinação, fazem a economia brasileira patinar, não encontrando sustentação para iniciar uma efetiva recuperação.
Embora o mercado preveja crescimento de 3% do PIB em 2021 (metade dos 6% previstos para a economia mundial), é pouco provável que o PIB brasileiro cresça além de 2% neste ano, sequer recuperando metade da perda em 2020 (queda de 4,1%). Como agravante, a dívida pública bruta se aproxima de 100% do PIB e os gastos com juros tendem a subir com a inevitável alta da Selic.
Precisamente há dez anos, findo o governo Lula, o Brasil disputava com o Reino Unido e a França o posto de 5ª economia do mundo. Em apenas uma década, em particular após o golpe contra Dilma, o País só fez andar para trás. Em 2020 caímos para 12ª economia do mundo, posição já ameaçada por Espanha e Austrália, além da Indonésia, que já nos superou em PIB/PPC. Vale lembrar que o ministro “posto Ipiranga” afirmava que o dólar só chegaria a R$ 5,00 “se o governo fizesse muita besteira” (sic).
Neste cenário de terra arrasada, o quadro social é calamitoso: são 30 milhões de desempregados (incluindo os desalentados e os que forçosamente migraram para a inatividade); 20 milhões passando fome (mais do que a população da Bolívia e do Paraguai somadas) e inflação galopante (a inflação dos pobres, medida pelo grupo alimentos no domicílio do IPCA foi de 18,15% em 2020), que corrói os baixos
salários e o mísero auxílio emergencial de R$ 250 para sustentar uma família (R$ 8,33 diários).
Não surpreende, portanto, que na Pesquisa Eleitoral do Poder Data, na disputa de 2º turno em 2022, Lula tenha alcançado 52% das intenções de voto contra 34% de Bolsonaro, que só ganharia num segmento social: o dos empresários. Sem dúvida, esses têm todos os motivos para votar em Bolsonaro, afinal, sua Política Econômica acentua ainda mais a concentração da renda e da riqueza no país.
Ademais, promove o desmonte do Estado, com as propostas de reformas administrativa e tributária, além de benesses ao capital, como a privatização “pelas beiradas” da Petrobras, Eletrobras, Banco do Brasil e Correios e a recente concessão, por 35 anos, da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (FIOL) à transnacional Bamim. Após realizar 75% das obras, investindo R$ 5,1 bilhões na ferrovia de 530 Km que liga a mina de ferro de Caetité a Ilhéus, o governo a concedeu pela módica outorga de R$ 32,7 milhões, acrescidos de 3,43% da receita bruta a cada ano.
Esses empresários se autointitulam patriotas, ardorosos defensores de nossa bandeira e de seu lema “Ordem e Progresso”. Mas, para eles, trata-se de ordem para os pobres e progresso para os ricos. Acham que país decente é aquele que condena sem provas pessoas de quem eles não gostam ou que afetam seus interesses.
Recordar é viver: as recentes pesquisas eleitorais estão nos fazendo recordar de 1950, ano em que fez sucesso uma marchinha de Haroldo Lobo, que dizia: “Bota o retrato do velho outra vez, bota no mesmo lugar. O sorriso do velhinho faz a gente se animar”.
(*) Doutor em Desenvolvimento Econômico Sustentável, ex-presidente da Codeplan e do Conselho Federal de Economia