Márcia Turcato (*)
Apoena, o filhote da onça-pintada Amanaci, sobrevivente do incêndio que consumiu 23% do pantanal em 2020, já recebe visitas remotas. Nascido em março deste ano, ele está sendo preparado para ser introduzido no bioma de seus ancestrais e não pode ter contato com humanos para não perder as características da espécie.
Sua mãe, ao contrário, jamais voltará ao Pantanal. Amanaci foi encontrada escondida no galinheiro de uma fazenda em Poconé (MT) com as quatro patas tão queimadas que era possível ver o osso. O pai de Apoena é Guarani, nascido em zoológico e hoje vivendo em um recinto do NEX- Instituto de Preservação e Defesa de Felídeos da Fauna Silvestre do Brasil em Processo de Extinção.
A Organização Não Governamental, criada há 22 anos, é um criadouro científico de onças para fins de conservação e abriga felídeos da fauna brasileira em processo de extinção. Lá, Amanaci recebeu um tratamento inovador com células tronco e aplicação de laser e conseguiu se recuperar, explica o veterinário Thiago Luczinski. Mas não totalmente, o que impede seu retorno ao Pantanal.
O pequeno Apoena ficará com Amanaci por cerca de dois anos, que é a idade em que os filhotes desmamam completamente. Depois disso, ele será levado para uma área de um hectare para aprender a caçar, sem contato com humanos. Depois, ele será transferido para um lugar selecionado no Pantanal totalmente cercado. A última aula será capturar um jacaré. Se conseguir, estará liberado para viver como um animal selvagem que é. Essa logística tem um custo que varia de R$ 500 mil a R$ 1 milhão.
Marruá
Nesses 22 anos do NEX, cinco onças foram reintroduzidas na natureza. É por isso que parcerias que dão visibilidade ao trabalho desenvolvido pela ONG são importantes. Foi o que aconteceu com a novela Pantanal, da TV Globo, que tornou conhecida a onça Matí, no papel de Marruá.
Matí estava com 2,5 anos de idade quando gravou as cenas da novela. Ela também tem uma história triste. Foi encontrada sozinha numa rodovia – provavelmente, a mãe foi vítima de caçadores – e foi criada por um produtor rural. Quando ficou muito grande, o tutor viu que era hora de arranjar um lugar mais seguro para Matí e ela foi para o NEX.
As gravações seguiram protocolos dos órgãos ambientais de proteção da fauna. As cenas foram gravadas em silêncio para não estressar o animal. Matí foi levada de carro ao set de filmagens. Todo o manejo da onça ficou por conta do pessoal do NEX.
Além de Apoena, há mais dois filhotes no NEX: a fêmea Ayra, de quatro meses, e o macho preto (onça melânica) Oxossi, de sete meses. Os dois não serão introduzidos na natureza. A onça macho Sansão, 22 anos, é o morador mais antigo do NEX. Ele está cego devido à catarata e não pode fazer cirurgia por conta do risco da anestesia devido à idade avançada. Na natureza, uma onça não vive mais de 12 anos.
Tem a fêmea Marruá, encontrada perdida no mato, sem mãe, e criada na mamadeira por um fazendeiro até ser transferida para o Instituto. Ela está no NEXT desde 4 de fevereiro e está bem adaptada. Tem Merlin, macho resgatado com um tiro que entrou por um olho e o deixou cego dos dois. Em breve, vai receber a companhia de uma fêmea. Os machos geralmente são vasectomisados, mas não castrados. Ao todo, 25 onças estão abrigadas no NEX atualmente: 16 pintadas, sete pardas e duas pretas, além de uma jaguatirica.
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