Ricardo Viana (*)
Encerrando o ciclo da era Tite e, quem sabe, do jogador Neymar, o Brasil, mais uma vez, de forma prematura, encerrou sua participação na Copa do Mundo. São vinte anos da conquista do pentacampeonato, em 2002. Desde então, a esquadra brasileira apenas alcançou um pífio quarto lugar na Copa sediada em nosso território.
Se fôssemos fazer um retrospecto desde a primeira conquista, em 1958, poderíamos indigitar que, além de um grande time, as Seleções Brasileiras vencedoras esbanjavam não só jogadores, mas gênios. E não é o que se vê agora.
Depois da ressaca da derrota para a Croácia, é quase unânime opinar que não tínhamos o melhor time. Argentina, Marrocos e mais uma vez a França mostraram que trazem um padrão de jogo diferente e mais eficaz do que o apresentado pela nossa Seleção.
Elenco que há três Copas uma dependência física e emocional do atacante Neymar, na Copa no Brasil saiu devido a uma lesão – pouco após amargamos o trágico 7×1 para Alemanha. Quatro anos depois, na Rússia, ele nada acrescentou e ainda saiu desprestigiado de tanto que rolou e gritou em amadoras encenações de faltas.
E agora, nada de novo. Apesar de ter feito um gol na prorrogação, Neymar perdeu várias oportunidades de definir a partida contra a Croácia e contribuiu para que o time adversário, apesar da inferioridade técnica, pudesse trabalhar a bola e aproveitar uma de suas poucas oportunidades de gol. Na disputa de pênaltis, ganhou o time mais competente.
Não é preciso rememorar a escalação das equipes de 1958, 1962 e 1970 para se saber que, além de um elenco fabuloso, tínhamos os imortais Pelé e Garrincha. Portanto, vamos aos mortais. Na escalação de 2002, tínhamos nada menos que Roberto Carlos, Kaká, Ronaldo, Rivaldo e Ronaldinho Gaúcho. Os últimos quatro ganharam a Bola de Ouro, isto é, foram considerados os melhores do mundo.
Kaká, Cafu, Roberto Carlos e Ronaldinho acompanham jogo da Copa na tribuna de honra – Foto: Reprodução Instagram
Dica a pergunta: é possível encontrar alguma correspondência entres esses jogadores e a Seleção de hoje? Sinceramente, não! Quer dizer, o Brasil, para ser campeão, precisa de um técnico agregador, de um bom time, além de talismãs, jogadores que se diferenciam não só pela qualidade técnica, mas pelo poder de jogar, liderar e vencer.
Tite é um estudioso. Levou o mediano time do Corinthians aos títulos de campeão brasileiro em 2011, da Libertadores. em 2012 e, no mesmo ano, de campeão do Mundo, derrotando o poderoso Chelsea. Após as conquistas, preparou-se e chegou à Seleção Canarinho. Perdeu a Copa de 2018, após um tropeço inesperado na até então tímida seleção belga.
Foi mantido no cargo em busca de dar continuidade ao trabalho, situação rara no Brasil. Entretanto, apesar de ter um time, faltaram-lhe prodígios. No seu tabuleiro, o Rei, ou melhor, o Ney, não soube turbinar os seus peões e suas torres.
Os jogos da seleção foram acompanhados da Tribuna de Honra pelos heróis do penta Roberto Carlos, Ronaldo e Rivaldo. Todos formais, de terno e gravatas esbanjando sobrepeso, mas externando autoridade. Era só os jogadores olharem para cima e buscar motivação. Podem até ter feito isso, mas o Brasil só tinha um time e esquema tático. Faltaram talentos que pudessem desbancar a tímida, porém mais concisa e preparada emocionalmente Croácia.
O que vimos no último jogo da seleção presenciamos também na Copa de 1982. Com um adendo: aquele grupo tinha um time e também ícones – Zico, Sócrates, Éder, Júnior encantavam o mundo. Contudo, retornaram para casa após a precoce eliminação pela Itália, a qual se sagrou campeã mundial. Vai entender…
A Copa terminou para nós, e agora inaugura-se um novo ciclo, o qual tem como início a escolha de um novo técnico. Um novo guia que deverá formar o seu grupo e garimpar algo mais do que talentos. Neymar? Talvez sim, pois ele é, sem dúvida, o que temos de melhor, mas já foi visto que não é o expoente de sua geração e que também não está fazendo a diferença. Terceira Copa que passa despercebido e nunca ganhou uma Bola de Ouro.
Por coincidência, as seleções de Messi, de Modric e do jovem Mbappé – atletas em evidência, continuam na disputa. Richarlisson, Vinícius Junior e Rodrygo são craques, mas creio que não são talismãs.
Os europeus já mostraram que são obedientes a esquemas táticos e se adaptam as adversidades para chegar aos seus objetivos. Somente com estratégia, o Brasil não leva o troféu. Voltamos para casa para mais um choro de quatro anos.
Entretanto, é bom saber que todos os times que ali estão, ao olharem para cima e visualizarem Ronaldinho, Rivaldo e Roberto Carlos, fazem-lhes reverência. Caso quisessem, esses lumiares das quatro linhas, mesmo aposentados, teriam lugar garantido em qualquer das seleções das Copas.
Quanto à Seleção Marroquina? Copa do Mundo, sua danada!
(*) Delegado Chefe da 6ª DP e professor de Educação Física