Anna Ribeiro (*)
Sempre fui ligada a esportes. Não por opção, mas por necessidade de alma. Corrida, natação, musculação, judô… Enfim, qualquer coisa que fizesse meu coração bater mais forte, para me lembrar que a vida pulsa forte dentro de mim.
A corrida. Correr pelas ruas, deixando a paisagem para trás, desafiar o tempo e a gravidade, a magia entre o salto e a aterrisagem. Sentir a respiração ofegante, o calor, a potência dos músculos, a cadência dos movimentos.
Correr até quase perder o fôlego era a minha forma de lidar com meus demônios e exorcizar meus fantasmas internos. O corpo aquece a alma que transborda em forma de suor. Tem gente que chora. Tem gente que corre. Algumas lágrimas escorrem dos olhos, mas, quando o mar interno é muito revolto, é preciso transbordar. Aí, só mesmo suando muito.
A natação. Nadar é como sair do mundo por instantes. O momento submerso no silêncio da água, a pausa na respiração é como morrer por instantes e encontra-se com o divino que habita em si. O sagrado de estar só e submerso na água nos remete às primeiras águas, ao útero materno, ao nosso primeiro mar. Quando buscamos o ar entre uma braçada e outra é como um pequeno nascimento. Inspiramos com toda força para termos força para seguir adiante até a margem.
Malhar. Concordo com o dicionário. Malhar tem relação com transformar, lapidar. Treinar, malhar é lapidar-se, esculpir-se. Ao contrário do que se pensa a grosso modo, não é sobre enrijecer, mas sobre tornar-se mais denso, mais maleável, mais adaptável.
Eu gostava de sentir cada fibra trabalhando. Gostava até da dor no dia seguinte, quando me lembrava que um trabalho havia ocorrido. Gosto de me sentir forte. Nem sempre é possível ser forte por dentro, então resta ao menos aparentar certa força.
Desconfio dos atletas. Lutam sempre contra si. Mas será que se sabem pequenos e frágeis?
E por falar em lutar, o judô foi uma paixão incontrolável. Na primeira aula, aprendemos a cair. Primeiro cair, depois saltar, depois atacar, depois golpear. Aprender a cair e levantar, aprender a enfrentar os medos, os adversários. São tantos durante a vida. O controle da emoção, o equilíbrio entre ser agressivo e suave. O equilíbrio da cerejeira que suporta o peso no inverso, mas que não se recente e se abre em flor.
Mas, o que realmente me impactou foi o yoga. Aparentemente simples. Ah! Como são complexas essas coisas simples da vida. Parar um tempo e respirar. Estar presente, só e ao mesmo tempo conectado aos próprios sentimentos e ao mundo ao seu redor.
É como ter o poder de parar o tempo e ao mesmo tempo integrar-se de tal maneira que o tempo e você sejam um. Olhar atentamente para si é tarefa das mais difíceis, mas também uma das coisas mais belas da vida.
Certa vez, um amigo me compartilhou seu sentimento sobre a prática do yoga: “yoga joga na sua cara seu próprio abandono”. Concordo com ele, mas complemento: o yoga vai te nocautear, te resgatar, te reconstruir, te lembrar quem você é e as muitas possibilidades do que você pode ser.
(*) Escritora