Faz bastante tempo, desde a primeira vez que ouvi na Catedral Presbiteriana do Rio de Janeiro o hino evangélico: “Da linda pátria estou bem longe… / Cansado estou. / De Jesus eu tenho saudades / Oh, quando é que vou! / Passarinhos, belas flores, querem me encantar / Oh, terrestres esplendores / De longe enxergo o Lar!…”.
Eu cantava a plenos pulmões, unindo minha voz à de outras centenas de fiéis que participavam dos cultos dominicais. A realidade é que hoje, aos 91 anos de idade cronológica, já não tenho fôlego para repetir o desempenho de um barítono amador, porém assumidamente desafinado.
Mas, em compensação, só agora consegui captar e vivenciar a mensagem daqueles versos tão significativos. E de repente me dei conta de que, mesmo de longe, estou começando a enxergar o Lar, como se fosse o vislumbre do Oriente Eterno.
Antes de tudo, muito embora o caminho até Jesus seja enfeitado por belas flores e cânticos de pássaros – idem daquele rouxinol aqui da quadra – ainda não estou a fim de ir embora, até porque quero continuar lúcido e útil aos meus semelhantes, principalmente às minhas netinhas Bárbara e Malú, indo buscá-las na escola em companhia da vovó Lêdinha.
Isto se o imponderável do tempo me permitir, para que eu possa concluir o meu Confiteor, ofertando palavras de esperança às pessoas bem-amadas, que terei de deixá-las, contra a minha vontade. Mas, sem drama. Por enquanto, prefiro lembrar os versos da Canção do Tamoio, de Gonçalves Dias:
\”Não chores, meu filho; Que a vida é luta renhida / Viver é lutar./ Um dia vivemos / E o homem que é forte / Não teme da morte, / Só teme fugir. / No arco que entesa, / Tem certa uma presa / Que seja tapuia, condor ou tapir. / Não fujas da morte, meu filho, / Pois a morte há de vir!…\”.
Adepto que sou do filósofo grego Epicuro, acredito no que ele pregava para os pobres em seu consultório, que era um lindo Jardim: \”Não importa quantos anos você vai viver; não importa o que você pretende fazer com seu tempo de vida. Todos nós, mais ou menos dignos; mais ou menos ricos; mais ou menos bonitos, – terminaremos esta jornada: MORTOS!\”
Ainda baseado no mestre Epicuro, devemos olhar para a vida como uma dádiva e não como um fardo. E, finalmente, segundo ele afirmou: \”Se a morte é o fim dos sentidos, obviamente não dói!\”
Então, por que temê-la?