“É difícil encontrar palavras para expressar meu débito com o NHS (o SUS da Inglaterra) por salvar minha vida”, escreveu em sua conta no Twitter o primeiro ministro britânico, Boris Johnson, ao receber alta de sua internação por covid-19. Lá e cá, no Brasil, o sistema público de saúde é a diferença entre viver e morrer para a parcela dos infectados pelo novo coronavírus que desenvolve o quadro mais severo da doença.
Não podemos esquecer que o Sistema Único de Saúde, apesar de todas as deficiências estruturais e de financiamento, mesmo antes da pandemia, já era a tábua de salvação para pelo menos três quartos da população brasileira, que não têm condição de pagar por um plano de saúde ou por atendimento privado.
Na contramão do que se vê agora – que o Brasil e o resto dos países do mundo não podem abrir mão de estruturas públicas de saúde – governantes em nível municipal, estadual, distrital e federal têm tratado o SUS não como solução para as necessidades de assistência em saúde da população, mas como um problema (de opinião pública e para o desempenho eleitoral) a ser contornado.
Também na esfera legislativa, os políticos têm tratado mal o nosso Sistema Único de Saúde – ao mesmo tempo em que se faz o jogo da destinação de emendas para aplicação em saúde nos municípios e estados, aprovam-se medidas como, por exemplo, a terceirização da gestão de unidades de saúde e a redução de investimentos, como no caso da Emenda Constitucional nº 95, a qual já retirou R$ 22,5 bilhões do SUS desde 2018.
Esses recursos, e mais ainda, investidos por estados, DF e municípios têm que voltar agora, a título de gastos emergenciais, para aquisição de equipamentos e materiais em um momento em que a demanda mundial faz os preços dispararem, e para montagem de hospitais de campanha, criação de leitos que deixarão de existir depois da fase crítica da pandemia em curso.
E toda essa movimentação de recursos, ainda que estejam muito abaixo do necessário para o melhor desempenho do Brasil no enfrentamento da covid-19, ainda dá margem a desvios dentro e fora das estruturas de governo, com superfaturamento e gastos desnecessários.
Em três décadas de existência, poucos nomes de políticos são lembrados por terem promovido avanços na concretização do SUS, que é um projeto de Estado, um alicerce civilizatório brasileiro.
A pandemia do novo oronavírus revela, mais do que nunca, que o País tem errado na forma de tratar a saúde pública e que está na hora de corrigir esse rumo. O SUS, que era o patinho feio, o espantalho dos noticiários, se mostra como o que realmente é: Um cisne, motivo de esperança de toda uma população e de orgulho para quem nele trabalha e para quem o defende.