Estou num abismo; o coração acelerado. Olhos fechados, sinto o vento contornando meu corpo. É o sopro dos devaneios, dos sonhos. Abro os olhos. A expectativa do salto que se aproxima. Medo de saltar, medo do porvir, medo do depois do salto. Mas, sobretudo, medo de gostar de estar no ar. Lânguida e entregue, sem pensar em aterrissar.
Fico tonta por um instante. Em minutos vivi tantas possibilidades, mas permaneço aqui numa paralisia aparente, para disfarçar a ebulição de sensações. Eis-me dizendo coisas que não deveria, sentindo o que não sabia.
A minha alma já não se sente só. Vivo acrescida dessa parte integrante chamada você. Angustiada. Sonhando de olhos bem abertos como esse infinito que é o instante do salto.
Riobaldo sabia das coisas: o que a vida quer da gente é coragem. Mas, eu complemento: o que é que a gente quer da vida? Uma rotina certa e programada, salário, família padrão, compras no mercado.
Ah! É difícil ser pouco com tanto universo dentro de mim.
(*) Escritora