O comunicado feito por Mark Zuckerberg na terça-feira (7) – a esta altura, os leitores já devem ter conhecimento da declaração do dono da Meta – é uma das mais relevantes notícias dos últimos tempos. Escrevo sem medo de errar e pretendo deixar registrado nesta página os motivos que me levam a acreditar nisso.
Para quem não atentou bem para o caso, registro a seguir, em tópicos, o que mudará – primeiramente nos EUA – no Facebook, Instagram e Threads. Com uma observação: os textos em negrito são opiniões deste colunista:
– A Meta deixará de verificar conteúdos que ela própria considera de menor gravidade. Conteúdos sobre gênero e imigração não serão excluídos, como funciona hoje.O foco da empresa será frear a propagação de conteúdos que, por exemplo incentivam crimes como pedofilia e tráfico de drogas. Donald Trump, um dia após o comunicado, publicou um de seus recados cifrados que colocam em dúvida a soberania do seu vizinho Canadá
– Substituição das agências de checagens por ‘Community Notes’. Hoje, empresas contratadas pela Meta têm o poder de dizer se aquele post é verídico ou não e alertar os usuários sobre uma possível fake news. Essa função é exercida por profissionais da área que naturalmente têm opiniões. Agora, o Instagram será igual ao X (Twitter), onde os próprios usuários criarão alertas.
– A plataforma voltará a entregar conteúdos políticos com maior frequência. Até então, o alcance desse tipo de post era reduzido. Sem muita atenção ao que é fake news ou não.
Além dos tópicos acima, uso este espaço para alertar sobre alguns pontos que não foram tratados pela imprensa com o destaque que considero necessário:
– Provavelmente, aumentará o número de contas falsas nas redes da Meta, assim como já é no X;
– O Supremo Tribunal Federal (STF) brasileiro reagirá. Afinal, foi citado indiretamente por Zuckemberg, que o chamou de “tribunais secretos da América Latina”. Outros episódios, como a história disputa entre o ministro Alexandre de Moraes e Elon Musk estão por vir.
– A tendência é que conteúdos polêmicos e que provoquem raiva sejam mais relevantes nas plataformas, o que favorece políticos como Jair Bolsonaro e desfavorece políticos moderados e não populistas.
– Por causa do tópico acima, Zuckemberg pode reacender a chama do conservadorismo, que estava mais fraca desde as derrotas de Bolsonaro, em 2022, e Trump, em 2020.
– Grandes veículos de imprensa terão de se mexer para disputar com Zuckemberg e Musk. Não descartaria a hipótese de a Globo criar uma rede social ou fazer parceria com o TikTok, por exemplo.
Estratégia? – Essas mudanças podem significar alterações comportamentais de toda uma geração. Por isso, acredito que o peso dado pela mídia brasileira foi aquém da importância da notícia. Ou, talvez, esse esvaziamento já seja parte da estratégia da mídia tradicional em combate às big techs americanas.