Maria Eduarda morreu em casa, na última segunda-feira (21), com um tiro na cabeça e outro no abdômen, aos cinco anos de vida. Foi mais uma vítima da guerra entre gangues em Ceilândia, que persiste há pelo menos quatro anos. A menina morava com a família na QNO 18 e quando foi atingida pelos disparos, estava indo buscar milho na casa vizinha para a tia fazer pipoca. Normal? Não. De forma alguma. É inconcebível perder uma criança para a violência.
Vitor Hugo Brandão, recém-nascido, morreu, dias antes, no Hospital Regional de Samambaia (HRSam), com cardiopatia cianótica complexa. Foi mais uma vítima do descaso, que persiste há anos em toda a rede pública de Saúde do DF. Mesmo com uma decisão do Tribunal de Justiça do DF e Territórios (TJDFT), que garantiu atendimento ao bebê, a SES-DF ignorou a determinação e o colocou na fila no Sistema de Regulação (SISREG) da pasta. Normal? Também não. É inaceitável que mães e pais percam seus filhos para o abandono da gestão pública.
E porque eu trouxe esses dois tristes casos ao artigo desta semana? O motivo é simples. Se olharmos com cuidado, o cuidado necessário para mudar o atual cenário do DF, os dois casos, anteriormente aos fatos, têm algo em comum: a banalização do absurdo por parte do poder público; o abandono. Quando, no mesmo dia em que uma criança morre baleada dentro da sua casa, o governo não se pronuncia sequer para oferecer qualquer tipo de ajuda à família, algo vai muito mal. O mesmo acontece com Vitor Hugo Brandão.
Se a Secretaria de Saúde não tivesse descumprido a sentença judicial, a história poderia ter sido diferente. E se a família do bebê tivesse conseguido a liberação de leito em UTI Neonatal com suporte de cirurgia cardíaca? E se mais uma vida não tivesse sido banalizada? E se outras milhares de vidas não tivessem sido banalizadas pela atual gestão? A exceção está se impregnando no cotidiano da população do DF. É preciso encarar os fatos: estamos, hoje, nas mãos de um governo que nos desumaniza. E isso não pode continuar.
O futuro do Distrito Federal, aquele que um dia tivemos e o que desejamos voltar a ter, depende da nossa reação, como cidadãos, aos absurdos que vemos e lemos todos os dias. Segurança, saúde, educação e transporte não são exigências. São direitos de todos. Não adianta o governo levantar dados apontando queda nos números da criminalidade quando se sabe que, em 25 anos, a população do DF dobrou e o número de policiais caiu. Hoje, são pelo menos dois mil policiais a menos nas ruas: civis e militares. É preciso valorizar a vida e o material humano.
Se o GDF insiste em banalizar e acumular absurdos em seu currículo, devemos mostrar que, em nossas vidas, não há mais espaço para esse tipo de comportamento irresponsável. As pessoas estão morrendo, os serviços públicos estão se deteriorando e os servidores, os trabalhadores, estão adoecendo. É necessário aprender que: o que não é normal não pode se tornar banal.