Há 2 anos, dias após as eleições, o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, afirmou, em entrevista a um jornal local, que em sua gestão não seriam admitidos nem fichas sujas e nem pessoas com envolvimento em corrupção. “Não quero nenhuma denúncia de corrupção”, disse.
Lembrando: isso foi em outubro de 2018.
Nesta semana, ao mesmo impresso, quando questionado sobre a prisão do secretário de Saúde, Francisco Araújo, suspeito de fraude, Ibaneis declarou: “acho que não era necessário. Se era uma questão de continuidade do delito, que eles dizem haver, bastava o afastamento dos cargos”.
O governador, importante lembrar, é advogado. Ele sabe bem que corrupção é um delito passível, também, de prisão. Ainda mais em se tratando de verba pública, dinheiro que deveria, com urgência, ser investido na saúde da população. Sobretudo, em tempos de Covid-19.
Mas essa preocupação pertence somente àqueles que, de fato, governam para seus cidadãos. Há indícios de não ser o caso do secretário afastado.
Talvez, também não seja o de Osnei Okumoto, o sul-mato-grossense que reassumiu a Secretaria de Saúde depois de ter pedido exoneração bem no meio da pandemia no DF, sem sabermos o motivo.
E por falar em sul-mato-grossense, é singular a preferência do governador, no que diz respeito à Pasta de Saúde, por pessoas de fora de Brasília – com pouca ou nenhuma boa referência em gestão, como é o caso do secretário afastado.
O ex-diretor-presidente do Iges-DF é alagoano e, supostamente, também em Maceió, ele teria causado prejuízo aos cofres públicos: nada menos do que R$ 56 milhões gastos, desnecessariamente, enquanto esteve à frente da Secretaria de Assistência Social da cidade.
Diante desses fatos, me pergunto: por que forasteiros, quando bem aqui, em Brasília, há excelentes profissionais que poderiam ocupar cargos de confiança na Saúde, com conhecimento de gestão, do Distrito Federal e da nossa população. O que os impede de ocuparem essas cadeiras?
Acredito que seja um fato interessante de observarmos com atenção. Em especial, diante do comportamento nada democrático desta gestão quando questionada ou confrontada. Qualquer servidor denunciado por irregularidades, sem direito de defesa, observem, logo é exonerado.
Para o Ministério Público do DF, a deflagração da operação Falso Negativo descortinou, “senão a maior organização criminosa entranhada no atual GDF, a mais letal, pois se alimenta da morte de inúmeras vítimas da nova espécie de coronavírus”.
Portanto, o conjunto probatório leva a concluir pela culpabilidade dos envolvidos no caso. Contudo, é importante destacar, se, ao final das investigações, eles forem declarados inocentes, que se faça também a devida retratação pública.
Por hora, e diante do aparente descaso do GDF para as vidas que se perderam, fico com a célebre frase do mineiro Guimarães Rosa em seu Grande Sertão: Veredas: “Uma coisa é pôr ideias arranjadas, outra é lidar com país de pessoas, de carne e sangue, de mil e tantas misérias”.