O que anda acontecendo com a economia de Brasília? Com a renda per capita mais alta do País, setores de comércio e de serviços patinam. Apresentam desempenho inferior à média nacional, quadro que vem se apresentando há algum tempo.
Os números que acabam de sair do Produto Interno Bruto do DF, referentes ao 2021 mostram um tímido crescimento da economia candanga, 3%, abaixo da nacional (4,8%) e até cerca de três vezes menor do que o verificado em estados como Rio Grande do Sul (9,3%), Tocantins (9,2%) e Roraima (8,4%).
Embora preserve a maior renda per capita – R$ 92.732,27 ao ano, 2,2 vezes maior do que a nacional – essa pujança parece não ser suficiente para mover a economia local a contento. Em termos de participação no PIB do Brasil, entre 2020 e 2021, o DF passou de 3,5% para 3,2%, ficando em oitavo lugar no ranking entre as 27 Unidades da Federação.
Dados de setembro, do IBGE, revelam que o volume de serviços no DF caiu pela terceira vez (2,6%, frente ao mês anterior). “Com isso, o setor de serviços se encontra 6,8% abaixo do nível de fevereiro de 2020 (pré-pandemia)”, informa o IBGE.
É verdade que o setor teve retração no país inteiro, mas em proporções menores do que em Brasília: -0,3%. No comércio, o desempenho local é bem inferior ao do nacional. Até setembro deste ano, o volume de vendas no setor varejista retraiu 0,4%, enquanto o Brasil cresceu 1,8%.
Inflação – Se de um lado a economia cai, de outro, a inflação sobe. E bem! Brasília registrou, em outubro, uma alta do IPCA de 0,62%, enquanto a variação nacional foi de 0,24%. No ano, o IPCA de Brasília acumula alta de 4,27% e, em 12 meses, 5,87% – contra taxas nacionais de 3,75% 4,82%, respectivamente.
A alta do custo de vida candango é puxada por quase todos os setores. Sete dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados apresentaram alta de preços, entre eles, transportes, habitação e alimentação, itens indispensáveis no dia-a-dia.
No mesmo mês, o Índice da construção civil acumulou alta de 43,26 nos últimos doze meses, acima da média brasileira (2,44%).
O peso do e-comercio
Impostos, internet, custo de vida, falta de políticas públicas…Que motivos levam a capital federal a andar na contramão do Brasil? Essa pergunta, levamos ao Governo do Distrito Federal e a economistas.
Em relação à inflação avantajada – em outubro Brasília só perdeu para Goiânia entre as dezesseis metrópoles pesquisadas -, o ex-superintendente do Sebrae, Valdir de Oliveira, avalia que, como a capital, a cidade tem características econômicas e demográficas únicas que podem influenciar a inflação.
“O DF tem uma economia diversificada, com forte presença do setor público, devido à concentração de órgãos e instituições governamentais. Isso pode impactar os preços, especialmente de imóveis e serviços”.
No GDF, a avalição é parecida. “Os setores do agro e da indústria têm participação reduzida na composição do PIB local, forçando o DF a importar quase tudo o que consome, impactando de forma negativa a balança comercial interestadual. Esses fatores aliados (alta renda e baixa produção interna de alimentos e produtos) podem impactar de forma negativa nos índices inflacionários, avalia a secretaria de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Renda.
O baixo desempenho do comércio pode ser reflexo do e-comércio, suspeita Valdir de Oliveira. “A alta capacidade de gastos, devido à elevada renda, e acesso fácil à internet podem estar levando à aquisição de bens e serviços que não precisam ser produzidos nem vendidos localmente”.
Esse fenômeno pode estar afetando também o perfil de consumo dos moradores da região geoeconômica de Brasília. Em 2020, o IBGE revelou que parcelas significativas da população de 99 municípios, espalhados por sete estados, procuram Brasília como destino para compras, especialmente, de vestuário e calçados.
Para contornar este quadro, Oliveira sugere “uma cuidadosa e detalhada revisão e ajuste das políticas tributárias, para torná-las mais favoráveis aos consumidores e às empresas. Isso poderia incluir a redução de impostos sobre produtos essenciais, como alimentos e medicamentos, para aliviar a pressão sobre os preços”.
O economista Júlio Miragaya, que presidiu a Codeplan, discorda. A chamada “guerra fiscal”, que demonstra ter trazido bons resultados para a Bahia e para o Ceará, não é por ele recomendada, pois poderia afetar a saúde financeira do GDF. Além disso, com a reforma fiscal e a unificação de impostos nacionalmente, ficaria quase impossível a adoção de políticas tributárias locais diferenciadas.