Derrotados nas urnas falem em impeachment e recontagem de votos. Vencedores querem ampliar participação popular
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Na terça-feira (28.10), a Câmara dos Deputados derrubou o decreto da Presidente Dilma Rousseff que estabelece a consulta a conselhos populares por órgãos do governo antes de decisões sobre a implementação de políticas públicas. O objetivo da proposta era inserir a opinião de membros da sociedade civil nas políticas governamentais. Foi a primeira derrota do Palácio do Planalto no Congresso Nacional depois da reeleição de Dilma, e aconteceu dois dias depois da divulgação do resultado das eleições. O Senado também sinalizou, por meio de seu presidente Renan Calheiros (PMDB-AL), que rejeitará a proposta presidencial.
Apesar de não ter conseguido esse direito, o povo tem dado indícios de que a rédea dos próximos governantes não correrá tão frouxa quanto eles estão acostumados. E a primeira ação popular criticando a política veio justamente da extrema direita, vertente política acostumada a conquistar seus ideais retrógrados por meio dos políticos que a representam. O ato aconteceu no sábado (1º) em várias capitais brasileiras, mas foi mais incisivo em São Paulo, onde a manifestação ganhou corpo com a presença de 2,5 mil pessoas, incluindo o cantor Lobão e o deputado federal eleito Eduardo Bolsonaro(PSC-SP), que desfilou com um revólver na cintura e pedindo intervenção militar no país (veja box).
Os seguidores de Bolsonaro pediam intervenção militar (já) e o impeachment da Presidente Dilma. O ato se misturava com o discurso de Lobão & Cia, que pediam a recontagem dos votos da eleição presidencial e protestavam contra o fato do ministro Dias Toffoli, do TSE, ter sido advogado do Partido dos Trabalhadores, o que, segundo eles, justificaria a intenção de “abafar o podre processo eleitoral brasileiro”. Na terça-feira (4), não só o ministro Toffoli, mas toda a Corte do TSE rejeitou o pedido de auditoria no pleito de 2014, mas forneceu todos os dados resultantes dele para o candidato derrotado do PSDB, Aécio Neves.
Aécio, que teve um dia de quase-Lula em sua volta ao Congresso. Na sua chegada ao Senado, militantes, apoiadores e colegas de trabalho fizeram um alvoroço digno de Hollywood para receber o tucano derrotado nas urnas. Aécio deverá ser o líder da oposição no Congresso e promete mostrar que o PSDB aprendeu a ser oposição. Entre as críticas contundentes ao governo, apontou a necessidade de melhoria dos indicadores sociais e econômicos do país, além da investigação completa das denúncias de corrupção. Aproveitou ainda para repugnar as manifestações que defendem o retorno ao regime militar. “Eu sou um democrata. Sou o primeiro candidato viável da geração pós-1964 e sempre defenderei as liberdades individuais, coletivas e de imprensa. Não aceitaremos retrocesso”, disse.
Canhotos
As manifestações do dia 1º, apesar das esdrúxula reivindicações, despertaram outros grupos sociais, até mais acostumados com as ruas do que os militares. Quem passou pelo Eixão Sul de Brasília no início desta semana pôde observar faixas da Central Única dos Trabalhadores (CUT) penduradas nos postes de iluminação com a palavra de ordem “participação popular, já!”. A manifestação da CUT promete dar, nas ruas, o troco aos extremistas de direita. O início da resposta começou a ser construída na terça-feira (4) em nove capitais brasileiras, em atos pedindo mais democracia. Assim como o ato liderado por Bolsonaro, o maior quórum dos sindicalistas foi verificado na Avenida Paulista, onde, apesar da chuva, mais de mil pessoas estiveram presentes.
Em cima de um trio elétrico, Júlio Turra, diretor-executivo da CUT defendeu a Constituinte da Reforma Política. “Não nos deixemos enganar. Só há duas propostas concretas, uma é a nossa, que pergunta à população se deseja uma Constituinte Exclusiva para a reforma política. A outra é um referendo em que o atual Congresso, ou o próximo, que será o mais reacionário desde 1964, vai elaborar uma reforma ‘meia-boca’ e depois tentar servir um prato feito para o povo. A palavra do povo só pode vir pelo plebiscito e não vamos deixar que a direita ocupe as ruas porque eles não têm base nenhuma por trás, enquanto nós somos os movimentos democráticos e populares do Brasil”, destacou.
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A presidente Dilma Rousseff dividiu as atenções da mídia com a volta de Aécio Neves ao Senado. Depois de mais de três meses, ela voltou a aparecer em uma solenidade com a presença de ministros, platéia, imprensa etc. Justamente no dia e no horário do retorno do tucano ao Congresso.
A cientista política Raquel Marinucci acredita que discutir a política nas ruas é essencial para o exercício da democracia e que o povo precisa acreditar no seu próprio poder antes de depositá-lo nos políticos. “As manifestações, ainda que divididas por partidos, diferentemente do que aconteceu em junho de 2013, têm o seu valor para a democracia”, disse. “E deve lutar pelos seus direitos, e isso independe de Conselho Popular, porque, acredito eu, estes Conselhos teriam pouquíssimos representantes da sociedade civil real, e sim de defensores de causas pontuais”, finaliza a cientista.