Lembrada como possível candidata ao GDF, a diretora do Sindicato dos Professores no Distrito Federal (Sinpro-DF) Rosilene Corrêa considera prematura a discussão de nomes. E, como militante sem cargo de direção, não descarta alianças do PT com partidos de esquerda. Mas, nesta entrevista ao Brasília Capital, afirma que os trabalhadores “estão percebendo os prejuízos do golpe” e que saberão de que lado ficar nas próximas eleições.
Além de sindicalista, você é filiada ao PT, que está num momento de transição após o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Você acredita que o PT deve lançar candidato próprio ao governo de Brasília? – Primeiro, devo esclarecer que não tenho cargo de direção no partido. Portanto, não falo aqui em nome do PT. Entretanto, como militante, percebo que a política brasileira, de modo geral, vive um momento extremamente delicado. Há uma descrença das pessoas em relação à política. O PT tem sido bombardeado. Isso é facilmente compreendido porque o PT simboliza um projeto que não atende interesses daqueles que sempre estiveram no comando. Isso vale para todas as instâncias. Tanto é que passamos pelo processo do impeachment e esse golpe não cessou, e tende a piorar o ataque à classe trabalhadora, como o processo que o Lula está sofrendo. Afinal, ele é a materialização do nosso projeto. Então, o PT, mais que qualquer outro partido, sofre esse ataque.
Ao sofrer esse ataque, seria uma linha de defesa unir-se a outros partidos para apoiar um candidato? Ficar com uma vice-governadoria, por exemplo? Ou seria mais interessante sair com candidatura própria ao GDF? – Acho que a questão não é o outro partido. Uma aliança seria super bem-vinda. É natural. Nós tivemos momentos em que isso foi extremamente necessário e positivo no campo da esquerda. Mas hoje, em minha opinião, o Partido dos Trabalhadores precisa ter sua candidatura própria. Exatamente para enfrentar esse momento. Não se pode perder a oportunidade de ir para as ruas e fazer o debate com a sociedade. É o PT quem tem que fazer isso. Outro partido não o fará.
Você aceitaria ser a candidata do PT ao GDF? – Meu nome já chegou a ser discutido dentro do partido, mas entendo que há um processo longo pela frente e que depende muito do cenário. A situação não se resume à política local. E, independentemente de quem for o candidato, deverá ter a capacidade de unir a militância, dialogar e compreender os atuais problemas de Brasília, além de defender o nosso legado, pois já mostramos com o Lula, Dilma e nos lugares onde governamos, que nosso projeto de governo é o que melhor atende aos anseios de toda a população. Logo saberemos quem poderá cumprir melhor com esse papel.
Vemos que hoje não tem nomes, mas uma linha. Esta linha seria de oposição ao Rollemberg? – Aqui no DF, sem dúvida. Nossa oposição é a esse modelo de governo que está sendo feito no DF. O Rollemberg faz um governo neoliberal e segue o mesmo modelo do golpista Michel Temer. Então, não se pode pensar em uma proximidade ou entender que esse modelo serve a nós e ao povo de Brasília.
A nós quem? PT e sindicalistas? – Eu fico muito à vontade para me colocar como servidora, porque poderia parecer uma crítica corporativista se nós estivéssemos falando de uma insatisfação só de quem é servidor público. Mas não é. É uma insatisfação geral. O governo sucateou todos os serviços públicos para tentar privatizar. Ele tem feito isso desde o início do seu mandato.
Você acredita que a insatisfação do servidor se refletirá nas urnas, como aconteceu com o Agnelo, que não foi nem para o segundo turno? – A política nos traz surpresas. O Rollemberg virar governador foi uma surpresa. Terá que acontecer algo de muito peso para mudar esse cenário. Há uma insatisfação muito forte entre os servidores. Isso vai repercutir fortemente no resultado das eleições.
O último embate do Sinpro foi em relação ao Iprev. Qual é a visão do sindicato quanto à aplicação desse dinheiro? – Precisamos separar esse processo em duas etapas. A primeira é que o sindicato lutou para que não fosse aprovado. Infelizmente o poder do executivo prevaleceu e conseguiu maioria na CLDF e nós perdemos essa batalha. A outra etapa foi a destinação desse recurso. Uma vez que já estava aprovado e nós não conseguimos reverter, nós fomos brigar para ter algo para os servidores. Não só o Sinpro, mas outros sindicatos estiveram na votação, que aconteceu no dia 15 de janeiro. Conseguimos um montante muito pequeno diante do total, que é de R$ 1,3 bilhão. Conseguimos uma emenda de R$ 73 milhões apresentada pelo deputado Wasny de Roure, com o apoio de outros deputados, além do compromisso do governo em destinar R$ 9 milhões por mês para os pagamentos das pecúnias.
Qual a dívida das pecúnias? – Mais de R$ 500 milhões para os servidores. Cada professor, em média, teria R$ 50 mil para receber. Outros servidores têm valores que chegam a meio milhão de reais. Mas não é o nosso caso. Só de 2016, com os professores, a dívida girava em torno de R$ 70 milhões. Em 2017, mais gente. A fila de 2018 já começou a andar. Só para a educação a dívida deve girar em torno dos R$ 200 milhões.
Quais as suas expectativas para a mudança do cenário atual no País? O que você acha possível fazer para melhorar esse quadro? – Eu fico muito preocupada porque nosso tempo é curto. Parece-me que as pessoas começaram a entender porque nós falávamos tanto sobre o que poderia acontecer. Espero que o tempo seja suficiente, que as pessoas reflitam melhor e entendam o que está acontecendo. A discussão não é apenas partidária. É de projeto. Que Estado brasileiro nós queremos? Qual o Brasil que queremos? Para quem nós queremos o Brasil? A decisão está nas mãos dos eleitores. Temos que comparar. Por isso eu insisto que precisamos, mais do que nunca, estar nas ruas enfrentando o debate. Precisamos desconstruir o que a imprensa golpista faz ― com muita competência ― diariamente. Nós vivemos uma queda de braço. A imprensa convenceu as pessoas disso. Mas nós não podemos desistir de mostrar o contrário.
Qual o efeito da crise política no movimento sindical? – Como o foco principal do golpe é destruir a classe trabalhadora, a estratégia deles é enfraquecer as entidades sindicais. Por isso a CUT (Central Única dos Trabalhadores) é fortemente atacada. Não é diferente aqui no DF. Todo o golpe se consolidou por afirmarem que queriam acabar com a corrupção e tentaram convencer a sociedade que tudo era culpa do PT. Tiraram a Dilma do governo e não existe nenhuma acusação contra ela. O Temer chegou a ser gravado em conversas pedindo para manter pagamentos de propinas e todos os dias vemos casos absurdos de corrupção que não dão em nada. Ao mesmo tempo, os trabalhadores estão perdendo direitos todos os dias. Estão vendendo o país a preço de banana. Os trabalhadores têm percebido isso e agora sabem quem está ao lado deles. O povo saberá avaliar de qual lado ficar nas eleições.