A democracia, especialmente a participativa, é o melhor regime político que a civilização humana conseguiu alcançar. Nesse sistema, os cidadãos são os detentores do poder e transferem parcialmente esse poder ao Estado, para que este atue como organizador da sociedade, garantindo o bem-estar de todos e promovendo a dignidade das pessoas.
No entanto, para que o processo democrático seja efetivo, há necessidade de mobilização, organização e participação do povo na construção de uma nação justa e igualitária. E isso no Brasil está muito distante de ser realidade, vez que o nosso povo nunca foi educado e preparado para participar do processo político democrático, ainda que a Constituição Federal ofereça amplas possibilidades para isso.
Por isso, reiteramos a proposta de que as parcelas mais conscientes da sociedade promovam e se engajem no esforço para reeducação e conscientização da população excluída do processo democrático, na mobilização e na organização da sociedade. Esperar que isso seja feito pelos políticos é uma utopia, pois eles preferem que o povo continue deseducado, pois assim é mais fácil de ser manipulado.
Além do mais, temos uma elite e uma classe média sem o sentimento de nacionalidade, que odeia os pobres e não tem o menor interesse em participar dos esforços para a diminuição das desigualdades sociais e para a inclusão do povo no processo democrático. Parece não terem consciência de que isso é condição para vivermos numa sociedade harmônica e pacífica.
O povo, por sua livre vontade, elegeu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições de 2022. Mas, por faltar consciência sobre democracia e sua dinâmica, elegeu ao mesmo tempo um parlamento majoritariamente de oposição ao governo.
Na democracia, a oposição deve ser exercida pelo grupo político que perdeu a eleição. É inconcebível, por isso, que se vote em um candidato para presidente e, ao mesmo tempo, em um parlamentar que, se eleito, fará oposição a ele. Não percebem os eleitores que assim agindo dificultam a realização dos planos de governo, além de obrigar o novo presidente a fazer alianças com partidos fisiológicos para garantir o mínimo de governabilidade.
Apesar de tudo, a eleição de Lula mostra um avanço na consciência popular, tendo em vista o uso sem precedentes de recursos públicos por Bolsonaro para garantir a reeleição, não somente para as mãos dos políticos do Centrão, mas também diretamente por meio dos “pacotes de bondade” de última hora por ele criados.
Usou ainda, sem êxito, a “máquina do Estado” de uma forma vergonhosa jamais registrada na nossa história. Prova disso foi, entre outras tantas, a ação da Polícia Rodoviária Federal para impedir eleitores presumidos como do então candidato Lula de chegar aos locais de votação em tempo hábil. Muito ainda precisa ser feito para que o povo tenha consciência da importância do voto e de sua participação mais ativa nas decisões que dizem respeito ao interesse geral. Sem povo consciente e participativo não existe democracia. E o poder econômico continuará elegendo os parlamentares que defendam os seus interesses e sem compromisso com os do povo em geral.