Segundo o Tao Te Ching, ou o Livro do Caminho e da Virtude, de autoria de um filósofo chinês chamado Lao Zi (tradução literal: Velho Mestre), para que o Homem se considere realizado, é necessário três coisas: plantar uma árvore, fazer um filho e escrever um livro. A propósito dessa obra perdida na poeira do tempo, convém lembrar que foi escrita entre 250 ou 350 a.C.(Antes de Cristo) e que inspirou o surgimento de diversas religiões e filosofias, entre as quais o Taoismo e o Budismo Chan, este último conhecido como Zen,em versão japonesa.
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Sobre essa milenar afirmação, não concordo que alguém possa se sentir realizado, até porque o Homem (ser humano) jamais alcançará a plenitude de si mesmo, baseado nas frágeis realizações de ter plantado uma árvore, gerado um filho e publicado um livro. Aqui para nós, qual o mérito da concretização dos dois primeiros atos? Afinal, para plantar uma árvore, basta jogar uma semente em terra fértil; e fazer um filho (ou vários) é produção sem maior esforço. Até muito ao contrário, resulta em inaudito prazer físico, a dois.
Mas no que se refere ao terceiro item, a conclusão muda de figura, já que não é tão fácil, como possa parecer. Para alguém escrever um livro é indispensável que não cometa o pecado gramatical de separar o sujeito do verbo com vírgula e que trabalhe com a devida pertinácia na gestação da obra, seja ela seleção de contos, poesias ou romance autobiográfico.
Faço esta oportuna observação porque já escrevi dez livros e estou lançando, nos próximos dias, o décimo-primeiro, no gênero autobiografia, com o título O Menino que Tinha Medo de Gente. E só Deus sabe como consegui colocar o ponto final, depois de quase dois anos revivenciando a Odisséia de minha juventude, quando andava armado com um punhal de cabo prateado, para me defender do constante assédio dos pedófilos.
Esse mergulho no passado valeu como dolorida cirurgia, na base do fórceps, como se fosse o Parto da Montanha. Mas não estou preocupado se esse compêndio de lembranças vai ser um best seller ou não. O importante, mesmo, é que, a partir do momento em que o livro for colocado na estante de uma biblioteca pública, ele se tornará eterno. Eis o exemplo do Tao Te Ching,que foi escrito há mais de dois mil anos e continua mais vivo do que nunca!