No Brasil, quando se fala do Paraguai, em geral as pessoas o associam a um país muito atrasado, onde se pratica o contrabando semilegal, ou, mais remotamente, onde se deu, há 150 anos, a Guerra do Paraguai. Mas, voltando ao país para visitar minha sogra, após cinco anos, o que vi me surpreendeu. Com 406 mil Km², o Paraguai tem as dimensões do estado de Goiás, e sua população, estimada em 7,2 milhões de habitantes, também é similar ao contingente goiano. Quase 97% da população reside nos 160 mil Km² de sua porção oriental, entre os rios Paraguai e Paraná. O Chaco Paraguaio, com 247 mil Km² (61%) comporta apenas 250 mil habitantes.
Cerca de 600 mil paraguaios residem na Argentina, para onde migraram nas décadas de 1960 a 1990. No século atual, os paraguaios têm optado pela Espanha, onde residem mais de 130 mil, e pelos EUA e Brasil, com cerca de 40 mil cada. As remessas desses emigrantes para o Paraguai somaram US$ 750 milhões em 2024 (1,7% do PIB).
Mas há também os que migraram para o Paraguai, destacando-se os brasileiros, chamados “brasiguaios”, agricultores dos estados da Região Sul e de São Paulo que compraram terras nos departamentos paraguaios limítrofes ao Brasil. Estimados em 300 mil, detêm 53% das terras nos departamentos do nordeste paraguaio (Amambay, Canindeyú, Alto Paraná e Caaguazú) e 18% nos departamentos do sudeste (Itapúa, Guairá e Caazapá).
A economia paraguaia tem um perfil semelhante ao da Região Centro-Oeste brasileira, baseada na produção de grãos, com destaque para soja (safra de 10 milhões de toneladas) milho (5,5 milhões t), trigo, arroz e algodão e produção de carne bovina (700 mil t/ano). Não por acaso, a pauta de exportação do país está assentada em soja e outros grãos (38%) e carne bovina (17%), com a energia produzida nas UHE de Itaipu e Yaciretá contribuindo com 17% das exportações do país. Comércio e serviços têm forte peso, e a indústria só agora começa a ter alguma expressão.
O PIB paraguaio somou US$ 45 bilhões em 2022, e o PIB/PPC (Paridade do Poder de Compra), segundo o Banco Mundial, alcançou US$ 114 bilhões, que resultou num PIB per capita de US$ 16.000, muito próximo ao brasileiro (US$ 17.830). Também o IDH paraguaio (2022), de 0,731, é muito próximo do verificado no Brasil (0,76), e provavelmente o ultrapassará até 2028.
Alguns dados revelam um Paraguai bem distinto do país atrasado de três décadas atrás. A frota de automóveis se aproxima dos 2 milhões, o que resulta na elevada relação de 270 veículos por mil habitantes. A capital Assunção tem em sua área metropolitana cerca de 2,6 milhões de habitantes, e vive um impressionante boom imobiliário. Há bairro que há 7 ou 8 anos não possuía um único edifício com mais de 10 andares e hoje ostenta mais de 30. Outro grande núcleo urbano é a área metropolitana de Ciudad del Este, com quase 600 mil habitantes, que forma com Foz do Iguaçu e a argentina Puerto Iguazu uma aglomeração com 1 milhão de habitantes.
Mas nem tudo são rosas no país vizinho. A pobreza e a desigualdade são tão alarmantes quanto no Brasil. O país é presidido por Santiago Peña, do longevo Partido Colorado, fundado em 1887, apenas 17 anos após o fim da Guerra do Paraguai. Foi o partido do ditador Alfredo Stroessner, que comandou o país de 1954 a 1989, governa 15 dos 17 departamentos, possui 49 dos 80 deputados e 23 dos 45 senadores e controla o sistema judiciário e a máquina pública (os servidores públicos são indicações políticas).
Em 2008, o Partido Colorado perdeu a eleição presidencial para o bispo católico Fernando Lugo, da Frente Guasú em coalisão com o tradicional Partido Liberal. Mas, em 2012 a direita se uniu e Lugo sofreu um meteórico processo de impeachment, de inacreditáveis 36 horas, sob a falsa acusação de ter estimulado a luta de classes, o que teria provocado um levante de camponeses e o consequente massacre de Curuguaty. Nas eleições seguintes, de 2013, o Partido Colorado voltou a vencer com Horacio Cartes.
Peña é do grupo político de Cartes, que atualmente preside o Partido, empresário bilionário que não pode ingressar nos EUA (sob pena de ser preso) por contrabando de cigarros e associação com o narcotráfico. O Paraguai é hoje uma das principais rotas do narcotráfico na América do Sul, onde o PCC de São Paulo tem forte atuação. Muito se comenta no país que o boom imobiliário deriva da lavagem de dinheiro promovida pelos narcotraficantes.
Em suma, o Paraguai que revi se parece cada vez mais com o Brasil.