Na recente greve dos caminhoneiros, aeroportos de todo o Brasil, inclusive o de Brasília, ficaram na mão por conta da falta de querosene de aviação – QAV. Apenas os aeroportos de Rio e de São Paulo não ficaram no sufoco, pois o combustível chega por meio de dutos que ligam as distribuidoras aos terminais, sem a necessidade do transporte rodoviário. Brasília também tem um duto! Ele passa na Epia, próximo à Estação Shopping do Metrô; continua pelas imediações no Zoológico, na Estrada Parque Aeroporto – Epar,e chega ao sitio aeroportuário.
Mas tem mesmo? Pelo menos a sinalização da existência de um duto nesse trajeto é bastante visível. O que não são visíveis são as respostas das empresas envolvidas no tema. Petrobras, Transpetro, InfraAmérica, cada uma como avestruz, enfiou a cabeça no buraco, e todas se recusaram a dar respostas concretas às perguntas feitas pela coluna.
À Petrobrás e à Transpetro foram feitas nove perguntas:
1) O duto que aparece na foto e que interliga o Aeroporto ao Setor de Inflamáveis é para QAV? Se não é esta a sua função, qual é a função dele?
2) Qual a capacidade de transporte de combustível ele possui?
3) Ele está em operação? Abastece o Aeroporto?
4) Se está em operação, por que o registro da falta de querosene no Aeroporto?
5) Se não está em funcionamento, quais os motivos do não funcionamento?
6) Procede a informação de que o duto não tinha revestimento adequado e que o QAV perdia sua qualidade ao ser transportado pelo duto?
7) Quando e quanto a Petrobras/Transpetro investiu para que tal duto fosse implantado?
8) Qual o combustível e em que quantidade ele chega a Brasília pela Ferrovia Centro Atlântica?
9) Existe um poliduto em operação abastecendo Brasília? Proveniente de qual refinaria e que combustíveis e quantidade chegam por meio dele à capital Federal?
Por telefone, a Transpetro, cujo nome estampa nas placas de sinalização do duto, passou a bola para a Petrobrás, dizendo que o filho, digo, o duto era dela. A Petrobras, por meio de sua gerência de imprensa no Rio de Janeiro, se recusou a responder pontualmente às nove perguntas, limitando-se a uma lacônica declaração:“Atualmente, não há estrutura que possibilite transporte de QAV por duto para o aeroporto de Brasília. O oleoduto que liga a Refinaria de Paulínia a Brasília movimenta diesel e gasolina, passando por Ribeirão Preto, Uberaba, Uberlândia, Goiânia e Brasília.”
Também lacônica foi a InfraAmérica: “Obras fora do perímetro do sitio aeroportuário são de responsabilidade de órgãos competentes”. Não informou, contudo, se o duto chega de fato até o aeroporto JK e se está em capacidade de operação. Segundo a InfraAmérica, três são as empresas de combustível que operam dentro do Terminal: a British Petroleum, a Raízen e a BR.
Nesse mistério todo, nem o número 0800, que aparece nas placas da Transpetro, está funcionando. A única luz que veio no fim deste túnel, digo, duto, foi uma suspeição levantada por um antigo aeronauta da Gol. Segundo ele, o duto de fato existiu e interligava o aeroporto ao Setor de Inflamáveis, mas que o revestimento do duto seria de má qualidade e estaria adulterando as propriedades químicas do QAV. As empresas envolvidas igualmente se calaram sobre esta hipótese.
Nesta história, quem entrou pelo cano, digo, pelo duto, foi o contribuinte que pagou pela obra que – pelo visto – não funciona. E os passageiros, que sofreram os atrasos e cancelamentos de vôos do Aeroporto JK. Ah! Também foi agredida a transparência pública de uma empresa estatal e de outra concessionária de serviços públicos.
E assim anda o Brasil! Se os caminhoneiros deixarem…