Naquele canto de página, no lado
esquerdo, tivemos o privilégio de ler, por sete anos e 348 edições do jornal Brasília Capital as crônicas de um
jornalista autodidata. Aquele canto,
agora, se calou. Parafraseando o poeta, “naquele
canto tá faltando ele e a saudade dele está doendo em mim”. E assim se foi
Fernando Pinto, no dia 21 de março de 2018. Assim se foi o “menino que tinha medo de gente”,
conforme título de seu livro autobiográfico.
Autodidata na profissão, autodidata
na vida. Vida que lhe foi ingrata desde a infância, ao perder a mãe aos três
anos, e o pai, seu herói, aos oito anos. Acolhido pelo tio, não sobreviveu aos
seus tratos. Menino de rua, refugiava-se onde se lhe apresentasse um banco de
praça e uma página de jornal para espantar o frio da noite, sempre fugindo dos
marmanjos da época, sem perceber que aquele jornal seria o mote de sua vida.
Descobriu uma biblioteca onde abusou
dos livros, o que lhe deu uma cultura juvenil não muito afeita aos jovens da
época. Nos jornais que lia naquela biblioteca descobriu o anúncio do primeiro
emprego, sendo acolhido em uma tipografia, onde rapidamente passou de
meio-oficial de tipógrafo a corretor de erros nas provas tipográficas, e outras
funções maiores. Agora sim, tinha o que comer e onde morar, com o soldo de seu
trabalho.
Mas, a vida continuava a lhe pregar
peças, em contraponto à sua disposição para o trabalho e o aprendizado. Fugindo
de gente que lhe afligia, buscou na diversidade do trabalho que se lhe oferecia
a forma de vencer as angústias. Da tipografia ao jornalismo foi uma ascensão
mais que natural, o que o levou aos mais altos rincões da notícia, culminando
com participação em praticamente todas as grandes transformações, desde a
construção de Brasília à correspondência de guerra, em viagens por esse mundo
afora.
O menino que tinha medo de gente
venceu todos os obstáculos que se lhe apresentavam e se transformou num
verdadeiro sucesso em sua profissão. Aí sim, a vida lhe sorriu com uma
profissão digna, com uma família bonita, com uma esposa e filhos dedicados, com
netos e netas queridos. Mas, além de tudo, com amigos ao seu redor.
Mesmo assim, a vida que lhe foi
ingrata, a vida que lhe sorriu, essa mesma vida agora o levou para outros
rincões espirituais e deixou para todos aqueles que, de uma forma ou de outra com
ele conviveram, uma saudade. Uma saudade gostosa… Afinal, saudade foi feito para a gente sentir,
já dizia o poeta.Mas, agora, aquele canto no jornal está acéfalo,
como a perguntar: onde está minha
inteligência? Quem me comanda? Onde está Fernando Pinto?