Muitos autores dignos de atenção, em virtude da qualidade e extensão de suas ideias, já contribuíram, de diferentes modos e medidas, para despertar e manter o interesse dos leitores pelas formas básicas e os episódios evolutivos do fenômeno secularmente denominado folclore (vocábulo criado em 1846 por William Jones Thomas, mediante a reunião de duas raízes saxônicas: volk = povo; e lore = conhecimento).
No Brasil já é grande o número de publicações dedicadas ao assunto. São raros, porém, os autores que se dispuseram a escrever livros destinados a orientar o leitor em seus passos iniciais pelo rico, variado mundo das lendas e práticas artísticas populares.
Em seu recém-lançado O Maravilhoso folclore brasileiro encanta (Ed. Italiamiga, RJ, 2019), Maria Gláudia Férrer Mamede, presidenta da ACCLARJ (Academia Cearense de Ciências Letras e Artes do Rio), recorre ao encantamento como meio de chamar a atenção do leitor de primeira viagem, orientar seus passos iniciais, levá-lo a deslumbrar-se e em seguida entender as sempre interessantes particularidades da criação de escritores e artistas plásticos populares, com elas ilustrar-se e conviver.
O livro de Gláudia não é volumoso; mas nas suas 86 páginas há espaço para informações básicas, iniciatórias, sobre algumas dezenas de figuras (de constituição e aparência não raro fantástica), perturbadoras pelo anonimato dos seus criadores, surpreendentes pelo contraste entre a modéstia dos meios como foram realizadas e o seu alto grau de expressividade, o conhecimento e a sabedoria que podem oferecer e dividir.
Mas, além dos entes mitológicos que povoam o livro, nele ainda há um pouco de espaço para superstições, festejos populares, artesanato e as bem diferenciadas culinárias das várias regiões do país.
Por tudo isso e mais o que não pode ser dito em tão pouco espaço, vale a pena ler essa esforçada peça de iniciação à arte dos que atravessaram séculos de anonimato antes de terem reconhecidos os seus méritos, nos quais, não raro, evidencia-se o toque sutil da genialidade.