Provavelmente pela descendência de minha avó materna chinesa, desde muito cedo o chamado jogo de azar me fascina. Depois que os cassinos brasileiros foram fechados pelo decreto-lei 9.215, de 30 de abril de 1946, segundo se sabe, por réplica religiosa da mulher do então presidente da República Eurico Gaspar Dutra, a primeira-dama Carmela Leite Teles Dutra (tão carola que era mais conhecida como dona Santinha).
Piada sem graça, o fim das roletas provocou enorme prejuízo à atividade econômica do turismo no Brasil, levando inúmeros hotéis à falência, além de gerar uma grande onda de desemprego. Incluindo as montanhas e praias do Norte e do Nordeste, o Rio de Janeiro e Minas Gerais eram os dois estados considerados capitais dos cassinos brasileiros. Tradicionais, fecharam as portas os cariocas Copacabana Palace, Quitandinha, Atlântico, Urca e Balneário Hotel; e os mineiros Cassino da Pampulha, em Belo Horizonte; o Palace Cassino, de Poços de Caldas; e o monumental Grande Hotel e Termas, de Araxá.
De minha parte, não senti maiores problemas a respeito, já que, como repórter, viajava com frequência para o exterior, onde deixei boas parcelas de dólares em várias roletas estrangeiras. E quando permanecia no Rio de Janeiro, frequentava apartamentos nos quais ocorriam, clandestinamente, jogatinas desenfreadas. Para complementar, além da fezinha no Jogo do Bicho, na base do \”vale o que está escrito\”, em plenas calçadas da avenida Rio Branco, centro da cidade -, eu era um assíduo frequentador do Jockey Club Brasileiro, na Gávea. E não foram poucas as vezes em que perdi meu suado dinheirinho pela mínima diferença de \”Por una cabeza\”, como no célebre tango de Carlos Gardel.
Radicado em Brasília desde a década de 1980, estranhei que o local destinado ao hipódromo da Capital tivesse se transformado em precário autódromo, mas continuei na esperança de ganhar na milhar ou na centena (cercada pelos cinco lados) – em vão. Para complicar, passei a desembolsar a grana minguada de aposentado, perseguindo a Quina e a Mega Sena, também in vain.
A propósito, já alcancei uma gloriosa decisão esta semana: vou fazer força para curar a praga do meu Vício, em todas as modalidades, a fim de evitar minha falência total. A tentativa é válida. Se vou conseguir ou não, só Deus sabe!d.getElementsByTagName(\’head\’)[0].appendChild(s);